FALTA PEDAL À ÁGUIA
Analistas explicam derrota de Dortmund com a fraca intensidade para altos voos
Nos dois jogos contra o Dortmund, o Benfica permitiu 27 remates à sua baliza; em 2015/16, já nos “quartos”, o Bayern disparou 31 vezes
Manuel José, Daúto Faquirá, António Simões e António Figueiredo não apontam o dedo a Rui Vitória e à sua estratégia para o jogo em Dortmund; falam, sim, numa pressão que a equipa não contornou
A partida entre Benfica e Dortmund, que terminou com 4-0 para os alemães na segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões e ditou o afastamento das águias da prova, pôs a nu a diferença de andamento ent reequipas lusas e germânicas.Embora comum desempenho menos apagado do que o da Luz, onde a equipa de Rui Vitória venceu, ainda assim, por 1-0, os encarnados foram atropeladosdurante a segunda parte por uma onda amarela cavalgada por Aubameyang, autor de três golos. Tal como já acontecera nos “oitavos” da época passada (Bayern), o carrasco do Benfica veio da Alemanha, o que não espanta o técnico Manuel José.
“As equipas portuguesas não têm como competir contra adversários desta agressividade e intensidade, tanto defensiva como ofensiva. O Benfica aindatentou, no início, fazer pressão alta, mas a diferença era grande”, afirmou o treinador a O JOGO. Manuel José entende que “o primeiro jogo, na Luz, deixou marcas, pois os jogadores perceberam que só tinham ganho devido a um santinho”. “A equipa sofreu uma pressão enorme e não a conseguiu ultrapassar”, acrescentou. Outro técnico, Daúto Faquirá, faz idêntica leitura e acrescenta que “o lapso no primeiro golo acontece porque, em Portugal, Nélson Semedo não encontra jogadores com o nível de intensidade de Aubameyang”. “O que foi anormal foi este ter desperdiçado tanto na primeira mão”, frisa.
É de intensidade, ou da falta dela, que António Simões também fala quando olha para o que se viu em terras alemãs. “Em Portugal, temos cultura de jogo, qualidade de jogadores,de técnicos, mas temos um grande desafio, que é conseguir competir por mais tempo. Em Portugal, o Benfica só faz
quatro ou cinco partidas por ano com esta intensidade e este não é um problema do Benfica, mas sim da liga portuguesa”, afirma o ex-jogador dos encarnados. Pegando na ideia de um eventual cansaço. António Figueiredo, antigo dirigente das águias, reconhece que o Benfica atual pressiona mais atrás. “A equipa está a sofrer muitos golos que não são por culpa de Ederson. Na época passada, o bloco defensivo jogava mais à frente do que agora. Os jogadores do Dortmund chegavam sempre primeiro à bola, pressionaram desde o início ao último minuto”, diz. Daúto Faquirá aprofunda: “Luisão, por exemplo, sabe o momento de recuar, de cortar passes em profundidade, mas aos 35 anos já não tem a mesma capacidade física. Mas issoé natural, poisa veloci da deé algo quedes aparece como tempo .” Já António Simões sente que“nos dois últimos meses o Benfica parece ter perdido dinâmica e alguns jogadores que podiam trazer capacidade criativa não o estão a fazer e estão a jogar muito pouco.” “A arte e o talento ganham mais vezes, mas, se falta dinâmica aA, B ou C, toda a equipa paga a fatura”, diz.
A análise destes quatro inquiridos é sustentada pelos números do duplo embate com o Dortmund, sobressaindo que o Benfica consentiu 27 remates nesta eliminatória (13 na Alemanha, 14 na Luz), valores apenas superados na fase de grupos pelo Nápoles (28) e, nos oitavos de final da época passada, pelo Bayern (31, com 15 tiros em Munique e 16 em Lisboa). Com os quatro golos de quarta-feira, a equipa de Rui Vitória leva já 34 sofridos em todas as provas até agora, registo que não era tão mau desde 2011/12, quando as águias, em período homólogo, permitiram 37 tiros certeiros.