O Jogo

Nem Trump pode parar mulher que desafiou talibãs

Ser o rosto do futebol feminino num dos mais perigosos países para ser mulher tem custado muito caro a Khalida Popal

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Khalida Popal, pioneira do futebol feminino no Afeganistã­o, teve de deixar o país mas continua a cruzada pela libertação das mulheres. Desafia o presidente dos EUA e dá conselhos ao líder da FIFA

Khalida Popal, de 29 anos, ex-capitã da seleção de futebol feminino do Afeganistã­o, não desiste de lutar pela igualdade de género. A viver na Dinamarca, contou ao “The Guardian” que ainda tem pesadelos. Vê homens de pé olhando para ela e rindo-se, tem medo de ser violada.

Foi a mãe, professora de educação física, quem lhe incutiu o gosto pelo futebol, mas percebeu facilmente que vivia no país errado. Ela e todas as outras mulheres que cometeram o sacrilégio de jogar futebol foram insultadas nas ruas e nas escolas. Há seis anos, depois de já ser identifica­da como rosto do futebol feminino no Afeganistã­o, teve de abandonar o país pois até com lixo já lhe tinham atirado à cara. Temia levar um tiro. Fugiu e escondeu-se na Índia. Nem as companheir­as de equipa avisou. Apenas o pai e a mãe.

Na Índia viveu sempre em movimento, com medo de ser encontrada, até conseguir mudar-se para um asilo na Noruega e de lá para a Dinamarca, instalando-se num centro de acolhiment­o.

Lembrando os tempos duros do Afeganistã­o, onde tentou esconder das colegas de equipa os maus tratos de que era vítima, para que elas não desistisse­m de jogar, disse ao “The Guardian”: “O meu problema não eram os talibãs com armas, eram os talibãs de fato, gravata e botas, pessoas com a mentalidad­e dos talibãs que estavam contra as mulheres e a sua voz”.

Na Dinamarca não demorou a sentir-se um pássaro preso numa gaiola. Arriscara a vida por um ideal, perdera identidade e país, e vivia num asilo. Entrou em depressão mas venceu-a com a ajuda de um psiquiatra. Trabalhou com outras mulheres nos centros de acolhiment­o e incitou-as a praticar desporto. A seguir fundou a Girl Power.

A organizaçã­o de Khalida Popal recrutou instrutore­s voluntário­s de todos os desportos e pô-los a trabalhar

“O meu problema não eram os talibãs com armas, eram os talibãs de fato, gravata e botas”

Khalida Popal

Ex-jogadora do Afeganistã­o

com mulheres refugiadas. Contratou até treinadore­s dos Estados Unidos, onde treinaram até há pouco tempo. Depois Donald Trump foi eleito e... “Não podemos continuar na América porque o presidente está contra os muçulmanos e os refugiados. Se essas pessoas dentro do meu país, aqueles odiadores, não conseguira­m deter-me, também Donald Trump ou cem Trumps nunca me deterão”.

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Khalida jogava de cabeça descoberta mas ajudou a criar um hijab para facilitar a vida às mulheres muçulmanas

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