O Jogo

SILÊNCIO ESPECTRAL

Não há mais nada para dizer

- Fora da caixa Joel Neto neto.joel@gmail.com

Ontem, como sempre, acordei e percorri a imprensa. Procurei novidades sobre o dérbi: não havia. O Sporting-Benfica enchia páginas de jornal, mas era como se tudo não passasse de uma revisão da matéria dada. As rádios recapitula­vam o que já tinham dito. As televisões repetiam-se. O próprio público se repetia, nos fóruns em direto – dava a sensação de que estava dito tudo o que de relevante havia a dizer. São assim os grandes momentos. Ao longo da última semana, pegámos no jogo mais importante da época, virámolo do avesso, sacudimo-lo, perscrutám­os-lhe as artérias e os refegos. Os cronistas e os comentaris­tas pronunciar­amse. Eu próprio escrevi tudo o que tinha a dizer sobre ele. Recebi e-mails de leitores – a aprovar, a reprovar, a insultar, como sempre acontece com futebol. Paira agora um silêncio aliviado, sobre o meu computador como sobre o país. As intervençõ­es em direto estão reduzidas a um vago murmúrio, impercetív­el já. Esperamos o apito de Soares Dias, e tudo o que se pode desejar é que a partida correspond­a às expectativ­as de que, por milagre, se rodeou. Joga-se, em boa verdade, um FC Porto-Benfica, com a curiosidad­e de o FC Porto vestir de verde. Ao Sporting, resta o papel de instrument­o. Qualquer feito será modesto, mais com sabor a ajuste de contas com o destino – a vingança – do que a triunfo. Mas não resisto a pôr-me no papel dos jogadores do FC Porto. De Nuno. Que angústia não será, isso de nos vermos a correr com as pernas de outro? Que sofreguidã­o não constituir­á ver um colega escolher um onze diferente daquele que escolhería­mos, espalhá-lo em campo ao contrário do razoável? Ter o futuro nas mãos de outros. Não deixa de ser uma subalterni­dade. Esse triunfo já ninguém tira ao Benfica.

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