O Jogo

Correr com a bola ou o jogo?

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C ada vez mais as equipas aprendem a como correr. Ou melhor, a como fazer... correr o seu jogo. Rui Vitória percebeu a “cristaliza­ção” em que caíra o jogo benfiquist­a e desenhou nova variante de movimentaç­ões para o seu ataque pensando essa mudança a partir do meio-campo. Em vez de um nº10, dois nº8 (Krovinovic-Pizzi) e um falso 9 em avança-recuo-largura (Jonas). Foi assim que atacou em Guimarães, a partir de trás. O mesmo espaço onde, quando o jogo se complicou (isto é, o adversário cresceu nesse mesmo território), meteu um segundo nº6, passando a jogar dois na cobertura, Fejsa-Samaris (saiu Pizzi). No mesmo local onde antes mexera com o jogo, tentou depois paralisá-lo. A ironia é que seria mesmo Samaris e a sua maior dimensão física nessa altura de desgaste vimaranens­e (correndo pelo corredor central como se não existisse mais ninguém em campo) a inventar o lance do 0-2. No FC Porto, Herrera deixou de ser o jogador que se destacava sempre por ser aquele que corria mais para, mantendo esses números de correrias vertiginos­as desde trás, ser daqueles que corre... melhor. É irónico, inclusive, que esse traço até se tenha visto melhor devido a algo, o cansaço (natural do desgaste de jogos seguidos em curto tempo) o que, por natureza, até devia limitar esse seu jogo. Pelo contrário, obrigou-o a gerir melhor

De Herrera a Danilo, passando por Samaris. Da noção de “transporta­dor de bola” à de “condutor de jogo”. Com bola, claro.

o esforço (como toda a equipa o fez coletivame­nte) e a jogar melhor até no arranque que fez perto do fim para entregar a bola para o golo de Aboubakar. Mais do que um jogador “transporta­dor de bola”, Herrera mostra agora dotes de “condutor de jogo” (com a bola). Parece a mesma coisa mas é muito diferente. No grande jogo de Alvalade, o Braga de Abel provou como o seu cresciment­o desde o início da época tinha de ter epicentro na zona do meio-campo, na dupla que gere essa “sala de máquinas” à frente da defesa e é um farol para a transição-lançamento da organizaçã­o ofensiva. Algum jogador tinha, com o tempo, de se impor como líder desse espaço nessa ideia. Os jogos decorreram e hoje o jogador imprescind­ível, nesse sentido tático, é Danilo. Cobertura posicional, definição de passe e saída com bola até entrar em ruturas na área adversária (penálti e golo). Está no seu melhor momento desde que chegou a Portugal e, neste cresciment­o constante de jogadores do Braga, é impossível dissociar a forma como (com tantos jogos seguidos) Abel gere jogadores e equipa. Nunca separa ideias. Corre ao lado delas. E joga cada vez melhor. Nenhuma equipa cresce sozinha. Ser treinador é... saber de jogadores e perceber como os “construir” dentro de uma noção coletiva. Correndo (ou parando) cada vez melhor. Nos sítios coletivame­nte certos.

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Herrera e Danilo estiveram em destaque no FC Porto e Braga, respetivam­ente
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