Uma preocupação a montante
ão me lembro da última vez que elogiei uma decisão da FIFA. Hoje não posso fazer outra coisa. O anúncio de que serão devolvidos aos jogadores pelo menos alguns dos direitos laborais que, com o passar dos anos, os clubes lhes haviam usurpado é uma excelente notícia. Claro: a FIFA revela-se sempre francamente mais lesta a decidir em matérias contrárias aos interesses dos clubes do que em matérias contrárias aos seus próprios interesses ou (o que não é assim tão distinto) aos interesses das indústriassatélite que fomenta. Os clubes são muitas vezes as primeiras vítimas da voragem mercantilista de Zurique. Mas o facto é que os jogadores ainda estão abaixo deles na hierarquia que vem de Blatter e Infantino começa – talvez aqui já seja a esperança a dominarme – a racionalizar. E um clube poder, por exemplo, pôr a treinar à parte um jogador de que se tenha desinteressado, apesar de possuir contrato com ele, era simplesmente obsceno. Bradamos em defesa da verdade desportiva e outras urgências do futebol e muitas vezes esquecemo-nos de que estão todas a jusante de uma urgência bem mais simples: este ser (ou voltar a ser) um jogo decente. Damos agora um passo nesse caminho. Mas falta ver como se vão regulamentar as intenções ontem anunciadas. Até porque, no caso dos tais jogadores postos a treinar à parte – e isto para falar apenas da mais violenta agressão entre aquelas que passámos a entender como normais –, a prerrogativa da rescisão unilateral por parte do jogador não chega. Em casos assim, uma rescisão unilateral simples é, quase sempre, muito mais conveniente ao clube do que ao jogador. Há que estabelecer ainda os parâmetros indemnizatórios. Em benefício do funcionário ostracizado, evidentemente.