O Jogo

UM LIVERPOOL QUE DANÇOU SOZINHO...

Não foi amarelo, mas azul e branco o submarino. Um FC Porto irreconhec­ível afundou-se com uma derrota histórica, perdoada no fim pelas bancadas

- Textos HUGO SOUSA

O hino do Liverpool diz que a equipa nunca caminhará sozinha, mas ontem não houve quem lhe fizesse companhia. Os ingleses arrumaram cedo a eliminatór­ia que tem uma segunda mão burocrátic­a Tudo o que podia correr mal correu. E nem sequer demorou muito. O FC Porto sofreu golos, os dois primeiros de rajada, empalidece­u e, sem pingo de sangue, ficou preso num labirinto, não encontrand­o saídas para responder a essa desvantage­m inicial e reentrar na eliminatór­ia. “Help”, dos Beatles, teria sido música adequada no momento, mas o pior ainda estava para chegar: mais três golos na segunda parte – um deles logo no arranque, a esvaziar o gás que Sérgio Conceição ensaiara com a alteração de fórmulaaoi­ntervalo,edeixando a equipa no relvado a afundar como um submarino. Azul e branco, no caso. Perder no Dragão com este estrondo é caminho e meio andado para o adeus aos quartos de final, mais ainda quando o histórico nos lembra que os portistas nunca venceram, sequer, um jogo oficial em Inglaterra. Ou seja, realistica­mente, não sobra a Sérgio outro remédio senão mudar o disco, mimando a equipa. Talvez o faça com o “All you need is love”, também dos Beatles, focando-a nas batalhas internas. O público, no fim, deu uma enormíssim­a ajuda nisso, com uma ruidosa ovação que há de servir para memória futura e para atenuar a mais pesada derrota da história portista em casa.

Voltando ao jogo, não é difícil resumir as coisas: foi um desastre. Privado de Felipe, Danilo e Aboubakar, o onze apareceu costurado com uma solução que O JOGO antecipara. Otávio reforçou o meio-campo, devolvendo um 4x3x3 que pretendia mostrar elasticida­de, mas acabou perro. Ainda enganou nos primeiros vinte minutos, com a bola a circular de pé para pé e a obrigar o Liverpool a estudar melhor o antídoto. Ironicamen­te, o fôlego inglês começaria numa reposição atabalhoad­a de José Sá. Reyes salvou a primeira tentativa, mas Mané não desperdiço­u a segunda. Outra vez com dupla intervençã­o discutível de Sá – reposição de bola apressada e mãos escorregad­ias a bloquear o remate. O FC Porto baralhou-se todo aí, perdendo o tino de vez cinco minutos depois, com o golo de Salah. O mítico hino do Liverpool garante que a equipa inglesa nunca caminhará sozinha (“You’ll never walk alone”), mas a verdade é que o FC Porto se esqueceu de a acompanhar emalgunsmo­mentos,abrindo alas para uma liberdade que acabou por ser fatal.

Num efeito dominó, as peças portistas foram desaparece­ndo uma a uma: Sérgio Oliveira, que até arrancara bem; Herrera, que na verdade nunca apareceu; Marega ou Brahimi, que se enredava numa teia de fintas para impaciênci­a das bancadas; e por aí fora, sem poupar ninguém. A entrada de Corona ao intervalo, já em desespero de causa, não alterou grande coisa. O terceiro golo destapou as fragilidad­es da resposta desejada e anunciava a catástrofe confirmada por uma mãocheia de golos. Nunca se vira um FC Porto sofrer tantos, ou com uma diferença de resultado tão expressiva em casa. O Liverpool nem sequer foi obrigado a carregar muito nas tintas, pintando a manta com suavidade. O trio da frente é corrosivoe­omeio-campo,sem grandes génios, engoliu o dos dragões sem mastigar muito.

Pronto, assunto encerrado, apesar de haver um segundo jogo. Não para emendar a mão, mas, eventualme­nte, para os dragões erguerem a cabeça.

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Robertson não evita o cruzamento de Otávio
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