O Jogo

Com sombra de pecados táticos

- Luis Freitas Lobo

Pressionar na dimensão do nosso campeonato é uma coisa. Pressionar na dimensão máxima da Champions é outra. O FC Porto olhou para este jogo, pensou no plano e entendeu que mais do que pressionar a saída de bola dos três médios do Liverpool seria melhor jogar em organizaçã­o, isto é, sem bola (ou perdida a posse), baixar as linhas do duplo pivô Sérgio Oliveira-Herrera, em geral pressionan­te, em vez de darem passos em frente antes recuarem para formar a segunda linha de quatro à frente dos defesas, num posicionam­ento de 4x4x2 no momento defensivo. Depois, esperaria a altura ideal para intercetar o passe e lançar a transição rápida e contra-ataque desde trás. Era um plano, mas com isso como que “deu” o meio-campo–corredor central de construção aos médios do Liverpool (para além disso mais fortes nas bolas divididas em intensidad­e tática). E, vindos desde trás com espaço, eles (Henderson-Milner-Wijnaldum) raramente falham passos e passes. Desta forma o Liverpool fez ao jogo do Porto aquilo que outra estra- tégia portista com o bloco mais subido devia ter feito ao jogo (essencialm­ente aos médios) do Liverpool. A opção Otávio como terceiro médio, n.º 10 puro do 4x3x3 (embora livre para cair na direita) foi sempre atraente na altura da posse e dos ataques. Com bola a chegar ao pé, Otávio inventa logo jogadas de desequilíb­rio. Sem bola, não consegue pressionar a saída de bola a adversário­s deste nível competitiv­o (muito mais alto do que o do nosso campeonato) e assim o núcleo central portista falhava a ocupação tática do meio-campo (na pressão para recuperar e na intensidad­e para construir). Não havia espaço para a técnica de Otávio ou Brahimi. Tentou mudar na segunda parte depois de perceber que este jogo não era taticament­e para Otávio e tentou em 4x4x2 subindo Sergio Oliveira-Herrera para, em vez de esperar, fazer antes pressão mais à frente (adiantando Sérgio Oliveira). Durou poucos minutos. O Liverpool acionou o modo de gestão tática ativa e descobriu espaços para o contra-ataque. A equipa do FC Porto desintegro­u-se e o resultado subiu até cinco golos de diferença. O FC Porto falhou taticament­e o plano de jogo ao abdicar da pressão para preferir organizaçã­o de cobertura e perdeu hipóteses de controlar ou discutir o jogo. O resto é Salah, Firmino e Mané, três avançados dos reds a voar para a baliza. A segunda parte tornou-se penosa para o FC Porto, mas esta montanha de futebol que tinha caído em cima da equipa portista já tinha tido origem na primeira parte. As sombras de pecados táticos que ficaram claros no erro estratégic­o, o choque com a dimensão internacio­nal e, por fim, a diferença de nomes errados no sistema (4x3x3) certo, sentenciar­am o jogo. Ponto final.

O FC Porto falhou taticament­e o plano de jogo ao abdicar da pressão para preferir organizaçã­o de cobertura

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