UM PENTA ENTRE LUTO E BOICOTES
1998/99 Benfica tenta feito só obtido pelo FC Porto, numa Liga em que a polémica andou de mãos dadas com a arbitragem
Fernando Santos foi o “engenheiro” de uma vitória com as impressões digitais de Jardel e festejada na casa do Sporting. A surpresa deu pelo nome de Boavista, que acabou no segundo lugar
Dezanove épocas depois de o país ter visto um clube conquistar o primeiro pentacampeonato da história do futebol português, é o Benfica quem agora tem nas mãos uma oportunidade de ouro de igualar uma proeza só alcançada pelo FC Porto. Na altura, como agora, a competição ficou marcada por vários episódios controversos e a polémica andou quase sempre de mãos dadas com a arbitragem. Foi o campeonato do luto decretado pelo Sporting pela atuação dos árbitros nos seus jogos, dos apelos da APAF ao boicote dos encontros dos leões, das divergências internas e do blackout decretado pelos jogadores no Benfica, da emancipação do Boavista (segundo classificado), dos 36 golos de Mário Jardel e da entrada de Fernando Santos (atual selecionador) para a galeria dos vencedores. Dezembro: o mês da ascensão do dragão O objetivo de chegar ao penta foi assumido por Pinto da Costa assim que foi conquistado o tetra. António Oliveira, que vencera os dois campeonatos anteriores, havia rumado a Espanha (Bétis) e levou o presidente do FC Porto a virar-se para Fernando Santos. O arranque nem foi auspicioso, com uma derrota em Aveiro na segunda jornada e outra com o Boavista na sétima, mas os dragões foram-se aguentando, beneficiando também dos tempos conturbados nos rivais. No Benfica, Vale e Azevedo ameaçara fechar o clube no verão devido à falta de recursos financeiros para pagar dívidas e o treinador Graeme Souness era acusado de apostar mais em jogadores britânicos do que em portugueses, ao ponto de o plantel ter decretado um blackout por tempo indeter- minado. O Sporting, com José Roquette na presidência, tinha o plantel mais jovem dos três, um treinador estreante em Portugal (Mirko Jozic) e alimentou um diferendo com a associação de árbitros desde cedo, ao ponto de Paulo Costa recusar apitar o jogo com o Farense.
Foi apenas em dezembro que o FC Porto disparou em definitivo para a vitória no campeonato. Os dragões assumiram a liderança na 14.ª jornada, tirando partido de
uma derrota do Sporting com o Salgueiros, e nunca mais a largaram. Até ao final, só viriam a perder mais uma vez, com o Vitória de Guimarães, e golearam Beira-Mar (7-0), Vitória de Setúbal (6-0) e Académica (7-0), jogos em que Jardel esteve em particular destaque: póquer com os aveirenses, hat trick com a Briosa. O brasileiro terminaria como melhor marcador, à frente de Nuno Gomes, e conquistaria a primeira Bota de Ouro da carreira.
O FC Porto não perdeu nenhum dos clássicos, como, aliás, na época que corre. Então foram duas vitórias em casa e empates na Luz e Alvalade, o último deles a coincidir com a festa que a fotografia descreve.