O MEU OUTRO PAÍS
Mas qual rivalidade?
Por acaso chateia-me um bocado que alguns brasileiros – muitos brasileiros, segundo percebo – se tenham lembrado de torcer contra Portugal neste campeonato do mundo por via da putativa rivalidade entre Cristiano Ronaldo e Neymar. São tantos os laços históricos, culturais e até genealógicos que nos unem que um brasileiro torcer contra Portugal (ou vice-versa) é quase tão deplorável como um português torcer contra Portugal, coisa que aliás também abunda. De resto, que Neymar seja rival para Cristiano Ronaldo é coisa em que só podem acreditar o próprio Neymar, o seu pai e, eventualmente, Florentino Pérez. Desde que Neymar se mudou para a Europa que não o vejo fazer a diferença numa só equipa, nem nos clubes nem na seleção. Na melhor das hipóteses, a sua presença é inócua, como, bem vistas as coisas, acontecia no Barcelona ou até no PSG. No Brasil de Tite, até prova em contrário, ter Neymar, com este tipo de individualismo e este tipo de desejo de ser o que se calhar não está talhado para ser, só funciona contra. Neymar vem de uma lesão, já se sabe. E é realmente um grande jogador. Mas, não obstante os esforços da CBF, da FIFA e dos media para forjarem uma categoria semelhante à de Ronaldo e Messi, não tem lugar no atual Olimpo do futebol nem – muito menos – terá lugar na mitografia da modalidade. A não ser que comece já a percorrer a via sacra dos deuses: a) jogar para a equipa, b) melhorar a equipa, c) carregar a equipa nos braços. E depois ainda será preciso que a equipa ganhe, ou pelo menos roce o sublime. Neymar ainda pode fazer isso tudo neste Mundial, mas para já vai precisamente no sentido oposto. Tenho pena pelo desperdício de talento. Mesmo assim, não ganhando Portugal, quero que ganhe o Brasil.