Fora da caixa Joel Neto
A11 de junho de 1986, chorei pela primeira vez a ver um jogo de futebol. O jogo deu tarde, eu era a única pessoa acordada lá em casa e, portanto, ninguém me viu chorar. Não teria tanta sorte na primavera seguinte, depois de o Diamantino marcar aqueles dois na final da Taça. Seria gozado durante anos. Mas, de qualquer maneira, nem aí chorei tanto. A história da derrota de Portugal com Marrocos já foi contada mil vezes esta semana. Mas, para mim, é pessoal. Filho de sportinguista, tive a preclaridade de fazer-me sportinguista também. Ainda hoje acho que um filho não tem o direito de escolher um clube diferente do do pai. Só que rapidamente se tornou evidente que, se eu queria celebrar alguma coisa de vez em quando, a seleção, apesar de tudo, não era uma hipótese pior do que o Sporting. Para mais, Carlos Manuel marcara aquele golo em Estugarda, colocando-nos no Mundial. E depois ainda fizera aquele à Inglaterra, adiantando-nos no grupo. Portanto, mesmo depois de perdermos com a Polónia, tudo era esperança. Marrocos estava ali, à nossa mercê. E perdemos. Perdemos sem apelo nem agravo, como se dizia naquele tempo. Lembrome de cada um dos golos, inclusive do nosso. Perdemos e desde esse dia, passaram-se entretanto 32 anos, que espero reparação. Pois aí está ela. Respiro de alívio: ainda vivi para a aplaudir. Hoje, os marroquinos vão para casa. Tenho muita pena: se queriam continuar, não tivessem perdido com o Irão. Portugal vai mandar os marroquinos para casa e vai mandá-los claramente. Em nome de todos aqueles que, há 32 anos, choraram pela primeira vez com um jogo de futebol. E para que aqueles que hoje têm dez ou doze anos, como eu tinha na altura, não chorem pela primeira vez com um jogo de futebol. Por favor.