O Jogo

O incrível mundo de Cavani

- Luís Freitas Lobo

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O conceito de amarrar um jogo é algo que mistura disciplina tática quase militariza­da a defender e um lado quase subterrâne­o de travar o adversário, enervandoo, quase fazendo desaparece­r a bola da face da raiva. O Uruguai (a arte malandra dos seus jogadores) é exímio nisso. Na primeira parte, contra Portugal, depois de fazerem o golo a abrir, numa conexão poderosa de técnica em fibra entre Luís Suárez e Cavani, nunca mais deixaram existir jogo no sentido solto do termo. Escondem-se atrás da linha da bola, encolhem o losango fechando por dentro e cobrindo em largura. Não se importam de não ter a bola porque encolheram o campo, defendem em associação próxima de duas linhas de quatro e controlam o espaço por onde ela anda. Sentia-se que Portugal tinha mais criativida­de individual em potência (com Bernardo Silva livre para criar a partir da direita) mas o lado “rochoso” das marcações uruguaias não deixava, susteve-a. A pergunta ao intervalo era saber como fazer abanar esse “bloco charrua”. O tesouro da vantagem do golo ia levar o Uruguai a fechar cada vez mais o jogo.

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A segunda parte não mudou este lado tático do jogo, mas uma bola parada mudou o... resultado. Pepe empatou, mas durou pouco tempo para perceber se esse golo poderia mudar o jogo e levar o Uruguai a sair do seu “casulo recuado” para dividir o jogo no campo todo e não só em 30 metros (os últimos, junto à sua área). Um golpe de classe de Cavani repôs no resultado a medida tática do jogo charrua (num lance que nasceu de um pontapé longo desde Muslera que devia ter sido em primeira instância disputado nas altura pelo recuar do trinco-pivô William e não o central Pepe). Portugal caiu do Mundial no jogo onde teve mais bola mas teve menos controlo (menos mandou) por onde ela andava. Pode parecer estranho mas entra aqui o conceito de “posse consentida” dada pelos uruguaios para depois aproveitar os momentos (curtos) em que tinha a bola para marcar a diferença do contra-ataque através da aliança Suárez-Cavani, a “dupla bicho de 9 charruas”. Quando não tinha a bola, fechava-se e controlava-a com o olhar mais matreiro do futebol sul-americano. A Celeste tem resistênci­a (a defender), veneno (a contra-atacar) e classe (a finalizar). O incrível mundo de Cavani segue em frente!

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