O Jogo

Há muito do Atlético neste Uruguai

- Jorge Costa

P ortugal caiu no jogo mais bonito que fez neste campeonato do mundo, no jogo em que foi aparenteme­nte dominador, em que esteve a maior parte do tempo no meio-campo do Uruguai, embora isto me leve a desconfiar se Portugal não fez o jogo que o Uruguai deixou. A forma como as coisas se passaram foram favorecend­o o adversário de Portugal, que é muito forte a defender, tem quatro médios muito poderosos, de combate, e dois avançados de grande qualidade. Não sei se devido a Godín, que tem uma imagem muito forte nesta seleção, mas não será só por isso, a verdade é que este Uruguai me faz lembrar o Atlético de Madrid; há muito da equipa colchonera nesta seleção. Também tem dois atacantes muto fortes, como são Cavani e Suárez, e o Atlético tem Griezmann e Diego Costa... O jogo acabou por entrar no caminho em que o Uruguai se sente mais confortáve­l; defender bem, dar a iniciativa do jogo ao adversário, e explorar a velocidade e a classe de Cavani e de Suárez. Marcou cedo, o que acabou por facilitar ainda mais essa ideia de jogo, que Portugal raramente soube contrariar, apesar de haver muito tempo pela frente. Este é o jogo uruguaio – basta ver os resultados que fez neste Mundial: 1-0, 1-0, 3-0, e agora 2-1 (Portugal marcou-lhes um golo, coisa que já ninguém lhes fazia há 18 jogos e que, portanto, ninguém conseguiu neste Mundial).

Sinceramen­te, julgo que Portugal foi até onde teve capacidade de chegar. Sei que havia o sonho de chegar muito mais longe, mas o que aconteceu no Europeu não acontece todos os dias. Nunca acreditei que Portugal fosse muito mais longe do que esta fase – sim, podia eventualme­nte ter chegado aos quartos de final. Os jogadores deram tudo, mas faltou um bom bocado para sermos mais fortes neste campeonato. Não quero aqui criticar as opções do selecionad­or, que as tomou com o intuito de vencer o jogo, mas surpreende­u-me a opção de deixar Ricardo Quaresma de fora, por tudo o que ele tinha conseguido – foi ele quem nos levou para os “quartos”, estava com o moral em cima. Contava vê-lo de início. O meio-campo também foi muto curto. William precisa de um jogador ao lado que dê rotação ao jogo, e Adrien não é esse jogador, não foi pelo menos. Muitos passes, mas a grande maioria deles para o lado, quando não era isso que se pedia. Talvez Bruno Fernandes desse mais essa rotativida­de para Portugal ter um jogo mais fluído, como se impunha. Como disse, o brilharete conseguido no Europeu de França não foi obra do acaso, foi obra de muito trabalho e de inteligênc­ia do selecionad­or; também de oportunida­de e de sorte, que sem ela nada se consegue. Os portuguese­s devem estar tristes, mas podem continuar orgulhosos. Um Mundial é assim, chega um dia em que os sonhos ficam pelo caminho. Agora, é apanhar a realidade, olhar para outros objetivos, continuar a trabalhar com Fernando Santos e com os jogadores que estão e com aqueles que vão aparecendo, qualidade não nos falta. Há que continuar.

Surpreende­u-me

a ausência de Quaresma no onze inicial. Estava com

o moral em alta

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Jogo do Bicho

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