Há muito do Atlético neste Uruguai
P ortugal caiu no jogo mais bonito que fez neste campeonato do mundo, no jogo em que foi aparentemente dominador, em que esteve a maior parte do tempo no meio-campo do Uruguai, embora isto me leve a desconfiar se Portugal não fez o jogo que o Uruguai deixou. A forma como as coisas se passaram foram favorecendo o adversário de Portugal, que é muito forte a defender, tem quatro médios muito poderosos, de combate, e dois avançados de grande qualidade. Não sei se devido a Godín, que tem uma imagem muito forte nesta seleção, mas não será só por isso, a verdade é que este Uruguai me faz lembrar o Atlético de Madrid; há muito da equipa colchonera nesta seleção. Também tem dois atacantes muto fortes, como são Cavani e Suárez, e o Atlético tem Griezmann e Diego Costa... O jogo acabou por entrar no caminho em que o Uruguai se sente mais confortável; defender bem, dar a iniciativa do jogo ao adversário, e explorar a velocidade e a classe de Cavani e de Suárez. Marcou cedo, o que acabou por facilitar ainda mais essa ideia de jogo, que Portugal raramente soube contrariar, apesar de haver muito tempo pela frente. Este é o jogo uruguaio – basta ver os resultados que fez neste Mundial: 1-0, 1-0, 3-0, e agora 2-1 (Portugal marcou-lhes um golo, coisa que já ninguém lhes fazia há 18 jogos e que, portanto, ninguém conseguiu neste Mundial).
Sinceramente, julgo que Portugal foi até onde teve capacidade de chegar. Sei que havia o sonho de chegar muito mais longe, mas o que aconteceu no Europeu não acontece todos os dias. Nunca acreditei que Portugal fosse muito mais longe do que esta fase – sim, podia eventualmente ter chegado aos quartos de final. Os jogadores deram tudo, mas faltou um bom bocado para sermos mais fortes neste campeonato. Não quero aqui criticar as opções do selecionador, que as tomou com o intuito de vencer o jogo, mas surpreendeu-me a opção de deixar Ricardo Quaresma de fora, por tudo o que ele tinha conseguido – foi ele quem nos levou para os “quartos”, estava com o moral em cima. Contava vê-lo de início. O meio-campo também foi muto curto. William precisa de um jogador ao lado que dê rotação ao jogo, e Adrien não é esse jogador, não foi pelo menos. Muitos passes, mas a grande maioria deles para o lado, quando não era isso que se pedia. Talvez Bruno Fernandes desse mais essa rotatividade para Portugal ter um jogo mais fluído, como se impunha. Como disse, o brilharete conseguido no Europeu de França não foi obra do acaso, foi obra de muito trabalho e de inteligência do selecionador; também de oportunidade e de sorte, que sem ela nada se consegue. Os portugueses devem estar tristes, mas podem continuar orgulhosos. Um Mundial é assim, chega um dia em que os sonhos ficam pelo caminho. Agora, é apanhar a realidade, olhar para outros objetivos, continuar a trabalhar com Fernando Santos e com os jogadores que estão e com aqueles que vão aparecendo, qualidade não nos falta. Há que continuar.
Surpreendeu-me
a ausência de Quaresma no onze inicial. Estava com
o moral em alta