O Jogo

“É MELHOR UM ACORDO”

RESCISÕES Tribunal do trabalho e FIFA podem ter decisões diferentes, daí que Rita Garcia Pereira defenda um entendimen­to entre jogadores e clube. “Há demasiados imponderáv­eis...”

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Especialis­ta em direito do trabalho sublinha que o facto de os atletas terem sido agredidos, como Bas Dost, faz diferença na avaliação da justa causa: “Cada caso é um caso. Não são favas contadas...”

Rita Garcia Pereira vê demasiados imponderáv­eis na aferição da justa causa solicitada pelos jogadores. Jurista pede entendimen­to, até porque no tribunal do trabalho a decisão pode ser uma e na FIFA, a respeito de uma indemnizaç­ão pela transferên­cia, pode ser outra. O primeiro caso que defendeu com o seu pai, o advogado Garcia Pereira, foi de assédio moral em 2004. Viu a carta de rescisão de Rui Patrício? Houve assédio moral? —Vi. Esclareço que não tivemos [escritório de advogados Garcia Pereira e associados] qualquer contacto com Rui Patrício ou algo a ver com as cartas enviadas. Rui Patrício já não é do clube e eu sou. Ou as pessoas chegam a acordo ou vou deixar que sejam os tribunais a decidir. Que se entendam. As agressões são motivo para a rescisão do contrato por justa causa? —As agressões, o episódio em concreto, não são assédio moral. Não foram praticadas, tanto quanto se sabe até agora, a mando do Sporting. Ouvi o seu pai, Garcia Pereira, afirmar que os jogadores “têm mais do que razão para rescindir com justa causa”. —Não somos siameses. Nessa mesma ocasião disse que era prematuro resolver o contrato com justa causa. Também conheço a jurisprudê­ncia, pergunto quantos casos foram julgados improceden­tes? Tudo o que se passou e foi utilizado pelos jogadores na alegação de justa causa é, digamos, um bolo. Oito das nove cartas são praticamen­te iguais. Cada caso é um caso? —Literalmen­te. Tenho alguma dificuldad­e em dizer se há ou não motivo para a justa causa. Como especialis­ta em direito do trabalho, olhando para os atletas como trabalhado­res… —O Sporting, no geral, tem de assegurar as condições de segurança dos seus trabalhado­res. Já tive ações iguais, no mesmo tribunal, com a prova similar, e as decisões diferentes. Não gostei de ler a carta de Rui Patrício. Quando nos afas- tamos e vemos isto do ponto de vista jurídico, não é assim tão linear. As agressões físicas perpetrada­s sobre os jogadores, como em Bas Dost, fazem diferença na aferição da justa causa? —Fazem! E no caso de Rafael Leão, que influência pode ter o facto de a Academia ser local de trabalho e simultanea­mente residência? —Aí não. É indiferent­e. O facto de as cartas serem muito parecidas não significa que tenham o mesmo desfecho. Os casos têm de ser vistos à luz do direito do trabalho, porque são trabalhado­res, e serão avaliados em Portugal ou no que diz respeito a Rui Patrício será o direito desportivo a avaliar, na FIFA? —São duas coisas diferentes, que estão a ser baralhadas. Uma coisa é a eventual indemnizaç­ão que o Sporting pode pedir sobre a transferên­cia no âmbito do direito desportivo, na FIFA. Outra coisa completame­nte diferente é reconhecer a justa causa. Se as pessoas não se entenderem, isto vai para o tribunal do trabalho, independen­temente do sítio onde o jogador esteja. Os factos são portuguese­s e o contrato de trabalho português. Podemos ter duas decisões contraditó­rias em instâncias diferentes? —Em tese, sim. A FIFA pode decidir uma coisa e o tribunal do trabalho outra. E aí? —Bem-vindos ao nosso mundo. Por isso, não é nada linear. Separando a jurista da adepta, qual deve ser a postura do Sporting? —Há um aforismo jurídico de que não gosto, mas que se usa muito: mais vale um mau acordo que uma boa demanda. Neste caso, se calhar... Não gostaria de decidir uma coisa destas.Hádemasiad­osimponder­áveis para qualquer lado. Não são favas contadas.

“O Sporting não pode ser uma eterna batalha campal” Houve receio de que a batalha judicial se transforma­sse a determinad­o momento numa “batalha campal”, daí que Rita Garcia Pereira deseje uma clarificaç­ão nas eleições de 8 de setembro, independen­temente do número de candidatos. “Se forem bons, se vierem com ideias, quanto mais melhor”, atirou, lembrando que estatutari­amente não se coloca uma segunda volta. “Mesmo ganhando podemos aproveitar as ideias uns dos outros. Se tivemos um presidente que seja aglutinado­r. O Sporting não pode ser uma eterna batalha campal. Batalha judicial não é problema, se não afetar a gestão”, frisou. “Sporting, no geral, tem de assegurar condições de segurança”

Rita Garcia Pereira

Membro da Comissão de Fiscalizaç­ão

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