O Jogo

Um único, grande dilema

- Jacinto Lucas Pires

Omundo está cada vez mais diferente, não é verdade, caros amigos? Agora até é possível a Alemanha cair, e com estrondo, na fase de grupos de um Mundial. E a Argentina de Messi ser eliminada na primeira partida a doer. Antes do nosso jogo, arrisquei pensar que isso talvez fosse um bom sinal para um candidato nãotubarão como Portugal… A verdade é que temos andado a jogar como se fôssemos outro país. Um lugar frio, de gente calculista e pontual. E assim não somos nem eficazes nem felizes.

Antes do embate com o Uruguai, o meu coração de adepto estava otimista. Mas, se a cabeça do cronista pudesse mandar alguma boca prévia, diria que ainda faltava encontrar uma “casa” para o nosso futebol. A ideia com que fiquei dos jogos até esta fase é que não estávamos confortáve­is, que não sabíamos ao certo o que fazer, que não tínhamos descanso. Estávamos sempre em esforço porque não havia uma ideia que nos desse abrigo. Podia ser (pensava eu, antes do jogo) que isso não viesse a ser um grande drama — afinal de contas, tinha sido assim, com uma “equipa de engenheiro”, sem arquitetur­a, que havíamos conquistad­o o Euro —, mas a verdade é que me faz sempre espécie ver Portugal jogar à bola sem respeito pela bola.

As várias dúvidas que então podíamos levantar resumem-se a um único, grande dilema: jogar “à portuguesa”, com bola no pé, toque rápido, trocas e diagonais, flores eficazes no um para um, ou jogar em modo “pragmático” para servir o “galáctico”. Na atualidade (não é segredo nenhum), há, pelo menos, um jogador de futebol melhor do que Cristiano. Mas o astro “tuga” é o melhor atleta que há no mundo da bola — e, com isso, vem a vantagem de, em dias especiais, quase não precisar de uma equipa. O que, quando essa equipa por acaso até existe, torna-se uma questão… Sento-me a ver o jogo e sou dois: o coração-adepto que quer ganhar, seja como for, com meio golo, tanto faz, e a cabeça-cronista que ainda espera pelo hino português ao futebol-arte.

Aconteceu o que todos sabem. Não tivemos nem uma coisa nem outra. Nem Dom CR7 apareceu na noite de nevoeiro de ontem, nem a equipa se libertou da cerimónia de funcionar como elenco secundário ao serviço de sua majestade. Uns dirão que o mundo está doido, que as alterações climáticas chegaram à bola, etc. Este adepto agora só chora. Mas aqui o cronista arrisca dizer que é altura de mudar.

Nem Dom CR7 apareceu na noite de nevoeiro de ontem, nem a equipa se libertou da cerimónia de funcionar como elenco secundário ao serviço de sua

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