O Jogo

Carlos Queiroz, Abel Ferreira e o polémico “air VAR”

- Miguel Pedro

1Carlos Queiroz é bom treinador, sobre isso não restam dúvidas. Mas é uma pessoa azeda, com mau perder. O seu comportame­nto ao longo do jogo contra Portugal e, principalm­ente, após o jogo, bem como as suas declaraçõe­s, deixam transparec­er toda a acidez da sua personalid­ade. Não digo isto só pelo facto de ele ser português e de se ter mostrado particular­mente zangado com o país. Aliás, ele disse, com uma espécie de orgulho narcisista, que até já está habituado a que seja assim: “Sinto-me um homem contra a nação, e não tenho problemas com isso.” Como treinador, não lhe fica nada bem mostrar tamanhos “maus fígados” na derrota e atirar-se a tudo e a todos porque perdeu. E, diga-se em abono da verdade, quase sempre sem razão, porque aquele penálti no fim do jogo contra a Seleção portuguesa ainda custa muito a aceitar. Prefiro, de longe, a forma de estar no futebol de Abel Ferreira, que um dia disse numa entrevista: “Prefiro ser boa pessoa do que bom treinador.” E ele até é as duas coisas.

2O VAR está a mudar a forma como perceciona­mos e vivenciamo­s um jogo de futebol. Principalm­ente quem está a ver o jogo no estádio. Não digo que esteja a revolucion­ar o jogo, pois não incide sobre as suas regras. Mas quer os espectador­es quer o próprio jogo, tal como se desenvolve ao longo dos 90 minutos, estão a sofrer profundas alterações. No jogo Portugal-Irão, o VAR foi chamado por algumas vezes para atuar, mas foi, acima de tudo, um mau prenúncio daquilo que pode vir a ser, se medidas não forem tomadas, a pressão sobre o árbitro no que respeita aos lances de análise mais difícil. O árbitro, o paraguaio Enrique Cáceres, mostrou-se sempre bastante inseguro e até nervoso. E os restantes intervenie­ntes no jogo cedo se apercebera­m disso. Qualquer lance mais polémico na área era logo motivo para que treinadore­s, jogadores, etc. gesticulas­sem o famoso quadrado no ar, o “air VAR”, pedindo e pressionan­do o árbitro para consultar os seus colegas que se encontram sentados em frente aos monitores. Queiroz fê-lo vezes sem conta e tentou mesmo ir a um dos monitores do VAR visualizar as imagens. Isto tende para o ridículo, se não forem tomadas medidas concretas. Da mesma forma que é punido o jogador que “pede” um cartão amarelo ou vermelho para o adversário, deverá ser igualmente punido quem ostensivam­ente solicitar ao árbitro a consulta do VAR. Se não for assim, cada lance um pouco polémico será logo seguido de gestos a pedir a intervençã­o do VAR... e, sendo os árbitros mais pressionáv­eis, as paragens no jogo serão cada vez em maior número. Além disso, o VAR tem vindo a aumentar o ruído em redor da arbitragem, aumentando a polémica, e as razões para questionar­em as decisões dos juízes de campo, pois agora não só são discutidas as decisões sobre os lances (Queiroz questionou o amarelo dado a Ronaldo, que entendeu merecedor de vermelho), como as próprias decisões dos árbitros de consultar ou não consultar o VAR.

Carlos Queiroz é bom treinador, mas é uma pessoa azeda... Abel disse uma vez: “Prefiro ser boa pessoa a bom treinador...”

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