O Jogo

O mundo não real e as respostas todas para o mesmo lado

- Miguel Pedro

Antes de mais, uma nota importante: ontem à noite, não pude ver o jogo entre o Braga e o Rio Ave. Nem fui ao estádio, nem pude assistir na televisão. Há já muito tempo que isto não me acontecia, mas passo a explicar (aproveitan­do este espaço para alguma promoção): apresentei ontem, no FOLIO, o Festival Literário de Óbidos, em concerto, o novo trabalho dos Mundo Cão, banda de que fui fundador e de que faço parte. Por isso, estive a tocar durante o jogo. E, como sempre acontece quando tenho concertos simultâneo­s com jogos do Braga, a primeira coisa que faço mal acabou o concerto é dirigir-me ao meu telemóvel para ver o resultado do meu clube. O processo de escrita produz o mesmo efeito que a velocidade da luz na teoria da relativida­de: distorce o contínuo espaço-tempo. Na verdade, o leitor lê hoje esta crónica que começa com uma referência do autor a um jogo de ontem (como se estivesse a escrever no presente), jogo que o mesmo nem sequer viu, nem podia ter visto, pois escreveu a crónica antes de o jogo ter acontecido. Confuso? E é para estar. Esta breve introdução serve para dizer que no momento em que escrevo não sei se o Braga, no momento da leitura, está ou não no primeiro lugar do campeonato, embora tenha fundada esperança em que tal aconteça. O jogo contra o Belenenses deu boas indicações e encheu a cidade de esperança. A semana foi dedicada à questão de saber se os adeptos pensam no título. Todos concordam em colocar a questão no domínio onírico: o título é um sonho por todos partilhado. Onírico é um adjetivo masculino da língua portuguesa e está relacionad­o ou faz referência aos sonhos, às fantasias e ao que não pertence ao chamado “mundo real”. Parece, então, que adeptos pensam o título como algo afastado do real. Dão razão a Abel Ferreira, que terá – dizem – proibido que os jogadores usem a palavra “título” em contexto de trabalho. A ideia é manter os “pés no chão”, ou seja, não entrar em fantasias e enraizar o percurso da equipa numa realidade bem concreta, a do jogo a jogo. Dum breve inquérito que fiz, esta semana, a 20 adeptos (portanto sem grande validade estatístic­a), quatro dizem que o título não passa de um sonho porque nos campeonato­s, que são provas de longa duração, os orçamentos acabam por ter grande peso e o orçamento do Braga ainda está distante dos orçamentos dos três crónicos candidatos. Os outros 16 consideram que o que verdadeira­mente impedirá que o sonho se transforme em realidade é o controlo que os outros clubes têm sobre as instituiçõ­es do futebol (arbitragem, disciplina). Lembram sempre o célebre caso do túnel, em 2009/10, quando o Braga liderava o campeonato e que culminou com a suspensão, por decisão disciplina­r, de três influentes jogadores bracarense­s. No meu otimismo, penso que hoje em dia as coisas estão diferentes do que eram em 2010, em termos de influência desproposi­tada dos clubes maiores nos órgãos do futebol. Mantenho, por isso, o sonho aceso, mas de olhos bem abertos.

No meu otimismo, penso que hoje as coisas estão diferentes do que eram em 2010. Sonho, mas de olhos bem abertos

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