Deuses e homens
Os desígnios do futebol são insondáveis. Alguns acontecimentos só se entendem (e aceitam) com uma grande dose de boa disposição
O s deuses do futebol devem ser gajos engraçados. Pelo menos, demonstram sentido de humor, um humor algo enviesado, mas ainda assim humor. Só assim se entende alguns dos episódios de ontem deste grande drama da vida real que é o futebol. E só assim – com humor – é que alguns treinadores conseguirão ir resistindo às rasteiras que os deuses da bola lhes vão estendendo pelo caminho. Lopetegui e Mourinho são nomes incontornáveis da jornada – o primeiro guia um dos piores Real Madrid de sempre; o segundo, um dos mais azarados Manchester United de que há memória. No Santiago Bernabéu, o Levante foi estatisticamente bombardeado: 70/30 na posse de bola, 12/2 em remates à baliza, 15/1 em cantos, 601/272 em passes completos... Resultado: 1-2 para a equipa de Valência, na quarta derrota em cinco jogos seguidos do Real (o outro foi empate!), que pelo caminho estabeleceu o segundo máximo de minutos sem marcar. Este registo agita fantasmas de 1985, ano em que os merengues estiveram 495 minutos sem fazer golos e terminaram o campeonato no quinto lugar, o mesmo de agora. Em Stamford Bridge, onde voltou mas na pele de adversário, Mourinho esteve a segundos de ser feliz, mas os blues empataram no cair do pano, num lance que teve um remate ao poste, duas recargas à baliza de De Gea e uma passividade confrangedora da defesa do United. Treinador sofre! Logo ontem, porém, e no meio de todo este drama, eis que Messi, que ganha a vida e muitos elogios à custa do pé esquerdo, se lesionou... no braço direito. Provavelmente, vai prejudicar-lhe a caligrafia, dado ter lateralidade cruzada (sim, é canhoto com o pé mas destro com a mão), mas vai, sobretudo, afastá-lo do clássico do próximo domingo com o Real Madrid. É como se aqueles que puxam os cordelinhos deste imenso teatro quisessem adensar a trama: irá Lopetegui aguentar-se no Real até ao embate de Camp Nou, onde o Barça não terá Messi? Para seguir nos próximos capítulos... Enquanto isso, em Itália, Ronaldo tinha mais um dia no “escritório”, que é como quem diz mais um recorde e em Portugal Neymar acompanhava a derrota do amigo Gabriel Medina no surf. Ah! E o PSG goleou, como se nem precisasse dele...
Irá Lopetegui aguentar-se até ao clássico com o Barcelona no domingo? E qual o peso da ausência de Messi? E Mourinho, como explicar tamanho azar?