Vinte mil esperados no dérbi
Recorde da época vai cair
JOSÉ JOÃO TORRINHA E MIGUEL PEDRO: DUELO DE COMENTADORES
O HISTÓRICO AMEAÇADOR DE LUÍS CASTRO
HASSAN: “GOLEADA PÔS SALVADOR RADIANTE”
“Só fico feliz com as derrotas do Braga quando dá jeito ao Vitória”
José João Torrinha Advogado
“É um jogo especial, não é igual aos outros. Vivo-o intensamente”
Miguel Pedro Jurista
Não houve feridos, nem mortos, nem pedradas, ou ameaças sequer. José João Torrinha (V. Guimarães) e Miguel Pedro (Braga), comentadores de O JOGO, anteciparam o grande desafio de amanhã
Quando a equipa de reportagem de O JOGO chegou ao Largo da Oliveira, no centro histórico vimaranense, já o advogado José João Torrinha e o jurista e músico dos Mão Morta, Miguel Pedro, se encontravam sentados numa esplanada. Não estavam ao soco, o que, desde logo, foram boas – ou más notícias, depende da perspetiva (uma cena de soco dava sempre uma boa história ). O JOGO juntou estes dois adeptos desde sempre do V. Guimarães e do Braga para falar sobre o dérbi de amanhã e sobre a rivalidade que os une, sim, porque é isso que mais os une. De resto, são comentadores semanalmente no nosso jornal, através do qual se conheceram num programa de rádio que fez furor. Ao longo da divertida conversa, bem tentámos a provocação, mas não foi fácil. Respeitam-se imenso e respeitam os respetivos clubes, algo que não se pode dizer da grande maioria dos adeptos. O dérbi é em Guimarães e, como tal, tinha de ser esta a cidade para palco do frente a frente (no caso, e por uma questão estética) lado a lado. A rivalidade como tema. Pelo meio da conversa, muitos sorrisos malandrecos, alguns apartes saudavelmente venenosos, mas não, não foi preciso intervenção policial como acontece em tantos encontros entre V. Guimarães e Braga. “Issoéhorrível, éo pior que pode acontecer. É algo que abomino eéo quede pior tem a rivalidade, porque rivalidade não é isso”, diz Miguel Pedro. “Já fui ver muitos dérbis a Braga, fui aí umas três vezes à Pedreira, mas deu sempre problemas, pedradas, confusão, de modo que decidi não ir lá mais”, conta Torrinha.
A rivalidade vista por um e outro. Primeiro, José João Torrinha: “Não tem jogo igual. Se saio da órbita? Quer dizer, ultimamente pelas funções que exerço [n.d.r. presidente da Assembleia Municipal de Guimarães] estou um bocado proibido de sair da órbita. Há dois anos, fui ver um jogo a Braga. Estava no camarote presidencial. A força que eu fiz para não festejar um golo do Vitória dava para levantar uma montanha. Mas quando estou na bancada, sai tudo cá para fora. Ódio ao Braga não consigo ter, a rivalidade é uma coisa muito boa, mas admito que haja quem odeie. Isso percebe-se nas conversas de café, quando se ouve coisas do género: ‘se eu estiver a morrer em Braga e precisar de um copo de água, prefiro morrer à sede’”, afirma, para garantir que só fica feliz com as derrotas do Braga quando “dá jeito para a classificação do Vitória”. “Disciplinei-me: só olho para o Vitória e acho que nas crónicas que escrevo no jornal nunca falei do Braga”.
Agora, Miguel Pedro: “Tenho uma forma muito parecida com o Torrinha de olhar para a rivalidade. Vivo o jogo intensamente. É um jogo especial, não é igual aos outros. As rivalidades são coisas boas no futebol, rivalidade não tem nada a ver com ódio. Mandamos as nossas bocas, festejamos e é assim que está bem. Durante o jogo, vibro muito. Há uns anos, era vice-presidente do Conselho de Justiça da FPF e fui a Guimarães ver um jogo com o Braga, a convite do Pimenta Machado. O Braga marcou golo mesmo no fim. Fiz um ligeiro festejo, um ‘gooolo’, mas contido. Não foi bom, e foi o Pimenta Machado quem meteu água na fervura. Não devia ter feito aquele ligeiro festejo, mas sabemos que às vezes é impossível não festejar.”
Convidados a recordar o dérbi de melhor memória, Miguel Pedro salta logo sem dar tempo ao colega comentador. “O que melhor recordo é o do ano passado” (risos, pelos 5-0 em Guimarães). E recordo-me
“O dérbi que melhor recordo foi um em que demos 5-0 ao Braga, era eu pequenino”
“Ódio ao Braga não consigo ter. A rivalidade é uma coisa muito boa e salutar”
José João Torrinha Advogado
“Vivo o jogo intensamente. Não é um jogo como os outros. É mesmo muito especial”
“Violência é algo que abomino. É o pior que tem a rivalidade no futebol”
Miguel Pedro Músico e jurista
bem de muitos que vencemos. Temos tendência para recordar os melhores momentos e não os piores...” José João Torrinha elege dois dérbis. “O primeiro era ainda muito pequeno, tinha cinco anos, e o resultado foi o mesmo do ano passado: 5-0. Só que vencemos nós. Também tenho bem presente o dérbi para a Taça de Portugal, em que eliminámos o Braga, e acabámos por vencer o troféu. O jogo foi uma emoção incrível. O Douglas fez uma defesa monumental a um remate do Custódio. Se a bola entrasse, não sei o que seria a vida do Custódio, já que vivia em Guimarães...”