Capucho: “Abandonar está fora de questão”
Treinador do Varzim retifica a desilusão com o futebol
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Nuno Capucho, treinador do Varzim, com um passado fortíssimo ligado ao FC Porto, jura que só quer ser feliz e fazer os outros felizes. O que não significa que tenha de ficar calado com as injustiças bbbIrreverentecomofutebolista,
Nuno Capucho é hoje, aos 46 anos, um treinador de futebol que anda “nisto” pela paixão que tem pelo desporto que desde sempre abraçou. Foi internacional, jogou no FC Porto entre 1997/2003, esteve na brilhante conquista da Taça UEFA, e recorda até esse momento nesta entrevista. Recentemente, o treinador do Varzim bateu os picos de audiência com as afirmações que fez no final do jogo com o Estoril, que o Varzim empatou, sofrendo um golo com a mão no último minuto. Mas Capucho é muito mais do que isso... É raro dar uma entrevista. Porquê? —Porque o que tenho a dizer não é muito importante. A minha importância era mais evidente enquanto jogador, gostava de fazer as pessoas felizes. Enquanto treinador acaba por ser a mesma coisa, fazer os outros felizes. Não gosto de correr para onde toda a gente corre. Gosto de fazer coisas diferentes, senão caio na chapa cinco e não quero. Mesmo perante as dificuldades não é importante eu estar a falar. Dizemos sempre as mesmas coisas, tanto nas antevisões como nas flashes, “que vai ser um jogo difícil, que foi um jogo complicado, que o adversário é complicado”. É sempre o mesmo discurso... e a verdade é que não se pode fugir muito. Bem, no jogo com o Estoril, a sua reação na flash interview não foi nada normal... —Tenho que dizer o que penso e o que estou a sentir. Uma coisa é comentar o que se passa, outra é ir por onde as pessoas querem... Mas nesse jogo a reação foi enérgica... —Foi mais pelo próprio jogo. Todos os agentes de futebol devem ser protegidos, inclusive as equipas de arbitragem. Senti que nesse jogo em situações iguais a nossa equipa foi tratada de maneira diferente. Já abandonou a ideia de deixar a carreira por causa do que se passou nesse jogo?
—Como é que posso abando-
nar a minha paixão? Adorava jogar e como treinador é a mesma coisa. Antes era mais egoísta, pensava sempre como é que me ia safar para jogar bem; agora olho para o futebol de uma forma menos egoísta. Por exemplo: ficava frustrado quando não jogava, percebo melhor hoje a frustração de quem fica de fora. Não há ninguémqueconsigajogarquando está triste. Abandonar a minha profissão está fora de questão. Nunca me passou isso pela cabeça. É importante no futebol sermos capazes de defender os nossos. A quente, perante uma má decisão que nos tirou dois pontos, reagi. A flash é na hora, estamos a quente... Acho que, depois de um jogo, os intervenientes deviam ter um tempo para serenar. Nas flashes diz-se tudo a quente; não quer dizer que não seja sentido, mas nem
tudo se pode dizer.
A sua saída do Rio Ave nunca foi muito bem explicada. Afinal, estava a fazer uma boa época...
—Estou no Varzim com muito prazer, o que correu mal serviu para aprender. A responsabilidade foi minha. Nunca arranjeidesculpas.Enquantofutebolista nunca coloquei as culpas no treinador quando as coisas me corriam mal.
É muito exigente com os jogadores.?
—Sou,talveznãotenhaasmelhores reações, mas não é nada pensado, é impulso. Só faço exigências com quem vejo que pode melhorar, desde as capacidades físicas até às técnicas. Eles sabem que sou assim e compreendem as minhas exigências. Gosto que percebam bem o jogo e o que têm de fazer em cada momento.
“Tenho a certeza absoluta de que vou ser bem recebido [no Dragão]. Nunca joguei lá, porque saí no ano anterior ao da inauguração”
“A quente, perante uma situação que levou dois pontos ao Varzim, reagi. A flash é um inconveniente”
“Estou muito feliz no Varzim. O que aconteceu no Rio Ave já passou. Nunca culpei um treinador por algo que correu mal”
“Quando não jogava ficava frustrado. Por isso, hoje percebo muito bem a frustração de quem fica de fora”