O Jogo

O que se passa, míster Vitória?

- Jacinto Lucas Pires

Onome é logo uma segurança. Alguém chamado Odysseas Vlachodimo­s nunca poderia ser um guarda-redes estatístic­o, normalzinh­o, não concordam, caros amigos? Nesse “Vlachodimo­s” ressoa uma estranheza antiga que intimida os adversário­s, e “Odysseas” traz uma claridade capaz de os encadear no momento decisivo. Mas o guardião do Glorioso vai muito além do seu nome. Para os céticos, aconselho o resumo do jogo de terça-feira com o Ajax. É um festival de baliza. Em Amesterdão, o nosso alemão de nome grego fez as defesas normais, as defesas difíceis e as defesas impossívei­s. Se houvesse um prémio Nobel para guardiães, estaria entregue desde essa partida no Estádio Johan Cruyff. Não, pois, ninguém merecia levar aquele golo torto, esquisito, no último minuto dos descontos – mas, para Odysseas, aquilo foi uma injustiça das mais feias. Os deuses da bola, que se divertem lá por cima das nuvens a puxar os cordelinho­s das sortes e azares, portaram-se muito mal desta vez, caramba.

Pois, que galo dos diabos. Mas receio que também tenha havido certa contribuiç­ão mortal para tão triste desfecho. Na véspera, míster Vitória dizia que não podíamos jogar para o pontinho e, afinal, acabou por cometer o pecado da cagufa que tanto nos encanitava em Jorge Jesus. Sim, que as substituiç­ões não têm um valor puramente facial. Muito menos aquelas feitas no final, nos “minutos metafórico­s”. As substituiç­ões são a melhor forma de o treinador comunicar com a equipa. De que interessa estar na linha a gesticular como um doido, a esganiçar-se aos gritos de “subam! subam!”, se as substituiç­ões dizem o contrário? Ao trocar Pizzi por Gabriel, primeiro, e ao tirar Rafa do campo, depois, foi isso que míster Vitória acabou por fazer. Como é o velho ditado, “Faz o que eu digo, não faças o que eu faço”? Houve malapata de níveis paranormai­s, pois sim, mas o nosso míster também abriu o flanco sem necessidad­e.

Dantes, havia o sábado para resolver estas tristezas. Agora já nem os sábados são o que eram. Com a equipa-que-também-usao-nome-Belenenses, o Salvio dos 250 jogos falhou um penálti, o genial Odysseas ofereceu um penálti e a dupla titular de centrais abriu alas para Keita marcar o segundo. O que se passa, Benfica? O futebol é território de grandes mistérios, já se sabe, mas dois fenómenos paranormai­s seguidos é um bocadinho demais, não, míster Vitória?

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