Moreirense: dos trapos à riqueza
Confissão prévia e imune a interpretações cativas de complexos geográficos: até à viragem do século, pouco mais sabia sobre o Moreirense além de que trajava de axadrezado verde e branco e era minhoto. Vi-o pela frente numa meia-final de Taça de Portugal renhida diante de um Sporting a quebrar jejum. Era 1999/2000. Não fiquei mal impressionado, dada a suadíssima esqualidez da vitória leonina (1-0) sobre um emblema de escalão e mundo inferiores. As coisas mudaram em menos de duas décadas. Muito. Os cónegos são hoje bem mais do que jardim das traseiras do fronteiro Vitória de Guimarães – a última jornada encarregou-se de voltar a parar tal ideia no peito e pontapeála para memórias passadas. O Moreirense tinha tudo o que era próprio em qualquer outro Moreirense desse tempo: um estádio modesto/vetusto; uma equipa de dentes rilhados; salário magro; lama na cara e em Vítor Magalhães um presidente sonhador, que sempre e sempre dizia na maior questão que dirigia “um clube pobre”. Levou o Moreirense ao topo divisional pela primeira vez em 2003 e tal sucesso foi rampa de lançamento para o Vitória de Guimarães, mas o fiasco da passagem de Vítor Magalhães pelos conquistadores voltou a ser sorte ainda maior dos cónegos, aos quais conferiu dimensão superior à deixada. O Moreirense estabilizou na I Liga, já tem títulos (a Taça da Liga de 2016/17), um recinto distante daqueles que 1972 liga a pedir de volta (é só ir ao Bonfim par aperceber ...) eé– será assim tanto ?...– sensacional quinto na tabela, com mais pontos do que nunca pela mão de um dos bons valores da nova vaga de técnicos nacionais – Ivo Vieira. Só não vai à Europa por suposta falha processual que os sonhos não contemplaram de início. Mas como até no paraíso há sempre o que melhorar, é só cuidar melhor das inscrições na próxima pré-época. É que o Moreirense mudou mesmo. Muito. Vítor Magalhães ainda há tempos reafirmou que dirige um “clube pobre”. Talvez seja essa a sua maior riqueza.