O Jogo

Moreirense: dos trapos à riqueza

- Filipe Alexandre Dias filipe.dias@ojogo.pt

Confissão prévia e imune a interpreta­ções cativas de complexos geográfico­s: até à viragem do século, pouco mais sabia sobre o Moreirense além de que trajava de axadrezado verde e branco e era minhoto. Vi-o pela frente numa meia-final de Taça de Portugal renhida diante de um Sporting a quebrar jejum. Era 1999/2000. Não fiquei mal impression­ado, dada a suadíssima esqualidez da vitória leonina (1-0) sobre um emblema de escalão e mundo inferiores. As coisas mudaram em menos de duas décadas. Muito. Os cónegos são hoje bem mais do que jardim das traseiras do fronteiro Vitória de Guimarães – a última jornada encarregou-se de voltar a parar tal ideia no peito e pontapeála para memórias passadas. O Moreirense tinha tudo o que era próprio em qualquer outro Moreirense desse tempo: um estádio modesto/vetusto; uma equipa de dentes rilhados; salário magro; lama na cara e em Vítor Magalhães um presidente sonhador, que sempre e sempre dizia na maior questão que dirigia “um clube pobre”. Levou o Moreirense ao topo divisional pela primeira vez em 2003 e tal sucesso foi rampa de lançamento para o Vitória de Guimarães, mas o fiasco da passagem de Vítor Magalhães pelos conquistad­ores voltou a ser sorte ainda maior dos cónegos, aos quais conferiu dimensão superior à deixada. O Moreirense estabilizo­u na I Liga, já tem títulos (a Taça da Liga de 2016/17), um recinto distante daqueles que 1972 liga a pedir de volta (é só ir ao Bonfim par aperceber ...) eé– será assim tanto ?...– sensaciona­l quinto na tabela, com mais pontos do que nunca pela mão de um dos bons valores da nova vaga de técnicos nacionais – Ivo Vieira. Só não vai à Europa por suposta falha processual que os sonhos não contemplar­am de início. Mas como até no paraíso há sempre o que melhorar, é só cuidar melhor das inscrições na próxima pré-época. É que o Moreirense mudou mesmo. Muito. Vítor Magalhães ainda há tempos reafirmou que dirige um “clube pobre”. Talvez seja essa a sua maior riqueza.

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