Quando se paga 4000 euros para ver um dia de ciclismo
As maiores provas mundiais têm bilhetes para as principais zonas e viagens de automóvel na etapa. São pacotes caros e esgotam sempre
Há corridas a comercializar os seus melhores lugares, em pacotes VIP que podem incluir transportes e refeições. A Volta a Flandres é a mais cara, com pacotes que vão de 95 a 4000 euros. Esgotam todos
Aquele antigo chavão do ciclismo que diz ser a modalidade única, porque vai a casa das pessoas e não cobra bilhete, ainda continua a ser real, mas não na totalidade. Praticamente todas as maiores corridas mundiais criaram pacotes VIP, cobrando a quem pretende acompanhar as corridas mais por dentro, e com imensas opções: acesso à “Aldeia de partida” – zona privada onde os corredores assinam o ponto e convivem, existindo normalmente um buffet – ou à de chegada, ida aos dois locais e a outro importante do percurso, zona reservada no local decisivo da corrida (com ou sem refeição) e acompanhamento em carro de toda a corrida, este o pacote mais caro, se excetuarmos a excentricidade que existe na Volta a França. No Tour, é possível somar 20 minutos em helicóptero por cima dos corredores às restantes mordomias, por um preço de 6500 euros!
A Volta a França, sendo a mais popular das corridas e com adeptos muito próprios, tem sobretudo pacotes destinados a empresas. Em todas as etapas há mesas para 10 pessoas, a 3000 euros cada, permitindo ver os corredores em zonas privilegiadas e ouvir os conselhos de um antigo ciclista. Para o Tour inteiro, uma mesa custa 60 mil euros. Na última etapa, os Campos Elísios estão praticamente cobertos pelas áreas reservadas, vendidas a grupos que vão de 10 a 100 pessoas. O valor por cabeça tem médias entre os 400 e os 650 euros, enquanto lugares nas tribunas são de 180 ou 280, também vendidos em grupo.
Mais surpreendentes são as clássicas e a maior delas todas é a Volta a Flandres do passado domingo. “O mais fascinante na Ronde van Vlaanderen é que continua a viverse o puro espírito de ciclismo. Os protagonistas são os ciclistas e o objetivo é agradar aos adeptos de ciclismo. Obviamente, há interesses comerciais, mas não se tem aquela desagradável sensação de que a corrida é apenas um pretexto para angariar dinheiro em publicidade e patrocínios. Tudo ali respira ciclismo”, escreveu José Carlos Gomes, relações públicas da Federação Portuguesa de Ciclismo e que há um ano fez a prova num dos carros que levava abastecimento à equipa Wanty. As próprias equipas organizam “excursões em que o ponto alto é a possibilidade de os convidados, mais ou menos VIP, poderem ver a passagem dos corredores no meio do povo, em alguns dos mais famosos troços de empedrado”, explicou.
Para ser um VIP na “Ronde” há 12 preços diferentes. Ver a partida com acesso à zona das equipas custa 95 euros, partida e chegada vale €395 e ir de carro a corrida toda, com um ex-ciclista como condutor,éo mais caro, 4000 euros. A opção mais popular é ver a subida do mais longo dos famosos “muros”, o Kwaremont – o pelotão masculino passa por ele três vezes e o feminino uma –, numa tenda VIP, com ou sem almoço, mas sempre com champanhe. Os valores vão de 320 a 440 euros por pessoa, sempre sem IVA. Não é barato, mas esgota todos os anos.
Aliás, se pretende ir ao Paris-Roubaix de domingo, anote que os lugares do velódromo da chegada (295 €) e a opção partida-chegada (120 €) já esgotaram e que para o domingo de Páscoa também já não é possível comprar os pacotes mais caros da holandesa Amstel Gold Race, que por sinal tinham preços interessantes: ver tudo em carro com motorista custava 530 euros. Com IVA!