Milagre individual e coletivo
posso aplaudir o esforço de Javier Tebas, presidente da liga espanhola, contra o movimento em favor da criação de uma dita Superliga Europeia. Estou a alertar desde o início: uma Superliga esvaziará as ligas nacionais. Mesmo que não todas de igual modo. Imaginemos que Portugal não consegue colocar qualquer equipa nessa elite: o nosso campeonato acabará por sair até reforçado, remetidas que serão as equipas, do ponto de vista internacional, a provas de consolação menos interessantes do que a liga portuguesa. E, se pensarmos bem, isso acontecerá mais cabalmente ainda nos países que vêm atrás de nós no ranking da UEFA, como a Bélgica, a Ucrânia, a Turquia, a Holanda, a Áustria – e por aí fora. Só que a secundarização das ligas nacionais, na sua generalidade, não é um problema específico dos países mais prejudicados. A médio prazo, todos serão afetados por igual, porque, por outro lado, a dita Superliga Europeia tornar-seá uma espécie de NBA, fora da qual quase não existe basquetebol que importe. Portanto, segue a minha homenagem a Tebas e a quem mais se lhe junte. Agora, façam o que fizerem todos eles, não poderão, por enquanto, igualar o que o destino permitiu nestas últimas eliminatórias da Liga dos Campeões. O Liverpool pertence à nobreza europeia, mas não faz parte da corte. O Ajax será, quando muito, um velho marquês há muito caído em desgraça. E o Tottenham nunca passou, na melhor das hipóteses, de um aventureiro, provavelmente bastardo, a quem jamais entregaram o título de baronete que reclamava. Chegarmos a um ponto em que a Champions fica na mão desses três clubes torna esta Champions, desde já, uma das melhores dos últimos anos, potencialmente de sempre. E, se não for ela a persuadir a hierarquia europeia de que há futebol para além dos G11 (ou G-16, ou G-20, já nem sei), então não vejo o que possa ser.