O Jogo

RONALDO POR TÁTICAS TORTAS

A Seleção está na final da Liga das Nações porque três talentos estiveram “compatibil­izados” por dez segundos. O resto foi a “descompati­bilização” total

- Textos JOSÉ MANUEL RIBEIRO

A seleção portuguesa é uma das primeiras finalistas da Liga das Nações às costas de Ronaldo, que estava a dever, porque não participou no apuramento. Chegou em boa hora. “Compatibil­izar talentos”, afinal, é bastante mais complicado do que parece, apesar da vasta experiênci­a da seleção portuguesa nessa matéria invocada anteontem pele selecionad­or. Fernando Santos surpreende­u com a inclusão de João Félix ao lado de Cristiano Ronaldo, mas surpreende­u mais ainda quando Félix se foi pôr no centro do ataque e voltou a surpreende­r quando os colegas tentaram fazer-lhe meia dúzia de passes longos para a velocidade que ele não tem e o poder de choque que, provavelme­nte, tambémnunc­a terá. Os centrais suíços são rapazes para mandar um puro malte 18 anos a Santos.

No papel, a ideia podia ter várias leituras. Se fosse Ronaldo a fazer o papel equívoco de Félix, fixando-se na área (riamse), seria mais fácil de compreende­r e até a versatilid­ade de Bruno Fernandes permitia o benefício da dúvida a um resto de onze cheio de armadores (Bernardo Silva, Rúben Neves, até William Carvalho) e pouca gente a quem passar a bola, sobretudo na área. Mas o jogo provou que era mesmo assim. Os suíços esticaram o campo e o futebol associativ­o que ainda se podia esperar deste grupo de jogadores ficou wimpossíve­l, dadas as distâncias entre eles. Um equívoco completo e muito difícil de entender, partindo do princípio (como temos de partir) de que Fernando Santos não embarca nas ideias feitas dos outros, nem faz onzes pela capa dos jornais.

Entretanto, Ronaldo marcou de livre, a partir de uma falta que ele mesmo provocou, e ninguém quis pensar muito no resto, ainda que a Suíça fosse acertando na barra (por Seferovic) ou passeando numa faixa entre a direita e o centro (Raphael Guerreiro e William Carvalho) que o diabo Shaqiri acabou por encontrar, depois de uns quinze minutos à procura. Por ali, e sempre em parceria com o lateral-direito Mbabu, conseguiu quatro ou cinco lances bem mais objetivos do que Portugal ia conseguind­o. Uma nota: um erro do central Akanji podia ter rendido o golo a Ronaldo mais cedo, mas o “mérito” teria sido todo suíço.

Na segunda parte, Santos tirou Félix na área, como era mais do que evidente, e a descida ajudou os colegas a subir, embora não o bastante. O jogo continuou fácil para a defesa da Suíça e continuou a ser ela a seleção mais inteligent­e, para além de ter um onze muito mais bem composto, componta de lança, jogadores explosivos, propósito nas zonas que procurava, etc. No fundo,vez de lotaria. Um penálti de VAR(57’ )d eu-lhe o jogo também e foi já uma seleção portuguesa de ideias esgotadas (todas as duas) aquela que encontrou o inesperado segundo golo de Ronaldo aos 88 minutos, já o prolongame­nto parecia dependente só dos suíços. Nessa altura, Santos já tinha trocado Félix pela velocidade de Gonçalo Guedes, velocidade essa que devia ter constado do onze desde início, fosse por Guedes, fosse por Rafa, até para dar sentido aos médios escolhidos (mas, sobretudo, porque o futebol é melhor quando as pessoas se mexem). Uma aceleração de Guedes contribuiu, finalmente, para o fecho do hat trick do capitão que assim passa uma borracha sobre uma noite de escolhas e ideias muito infelizes. Se calhar, é melhor pensar nisso antes da final.

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Gonçalo Guedes tenta fugir à marcação
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