O Jogo

Os chefes e os índios

- Manuel Queiroz

F ernando Santos escolheu a equipa dos adeptos: com Bruno Fernandes, João Félix, Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo, tudo gente maravilhos­a para ter a bola e pouca vontade de correr atrás dela. Muitos chefes e poucos índios, como se pode dizer, o que implicava que os chefes fossem um pouco índios. Mas não foram.

Portugal defendeu quase sempre mal: Shaqiri esteve sempre muito à vontade, com uma máquina de correr para a frente como o lateral-direito Mbabu, que não foi parado mesmo com a colocação de William daquele lado. Faltou coesão ao onze português no Dragão, porque alguns dos nossos tenores nem cantavam as árias de que mais gostam. João Félix teve que ser mais 9 e ele não é isso, Bruno Fernandes teve que ser médio-direito, Bernardo Silva começou no meio num 4-4-2 losango e acabou na ala, onde é sempre melhor. Foi muitas vezes essa inadaptaçã­o à

O 64.º jogo de Fernando Santos acabou por ser ganho pela máquina de rematar à baliza em que se tornou o CR7

função que tinham que desempenha­r que fez com que a equipa nunca estabiliza­sse – só teve dois treinos para isso. E uma equipa com jogadores de terem bola acabou com 46% de posse (43% na primeira parte), porque não havia estabilida­de. Melhorou na segunda parte, quando Bruno Fernandes se manteve sempre como médio-direito e a coisa se equilibrou mais.

O 64.º jogo de Fernando Santos – que ultrapasso­u Scolari e perdeu apenas três vezes em competiçõe­s oficiais – acabou por ser ganho pela máquina de rematar à baliza em que se tornou o CR7 (88 golos na equipa nacional, no seu 53.º hat trick, sete dos quais na Seleção). É que, no resto, nem sequer jogou bem. Só que o resto acaba por não contar. O segundo golo é um portento: passe preciso de Rúben Neves, grande receção e belo passe atrasado de Bernardo Silva, tiro rasteiro do homem da Juventus. O 3-1 é um grande resultado que não é produto de uma grande exibição. Para ganhar a final, vai ser preciso subir o nível, seja com Holanda, seja com Inglaterra.

Diga-se que a estreia de João Félix na Seleção, e logo a titular – raríssimo em jogos de alto nível –, não foi boa, também porque jogou fora da sua posição mais natural. E o VAR (primeira vez que foi utilizado em jogos de seleções da UEFA) foi, se calhar, longe demais: o penálti que o árbitro marcou não me parece um erro claro e óbvio. De um penálti para Portugal passou-se a penálti para a Suíça e a 1-1. Não foi uma boa decisão.

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