Liga tenta derrubar dirigentes da Federação
Conflito dos horários que impede a realização de jogos de La Liga às segundas e sextas vai ser dirimido nas instâncias superiores do desporto
A determinação da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) que impede a realização de jogos da liga principal às sextas-feiras e às segundas passou de assunto polémico a guerra aberta
O conflito dos horários, como lhe chama a imprensa espanhola, entrou em clima de guerra aberta. E a liga vai ao ponto de pedir a inabilitação de Luis Rubiales, presidente da Federação, Andreu Camps, secretário-geral do organismo, e Carmen Pérez, responsável pelo Comité de Competições. Na queixa apresentada contra os dirigentes federativos no Conselho Superior de Desportos, a liga invoca uma “infração muito grave no tema dos horários”. Se a demanda se enquadrar na Lei do Desporto, Rubiales, Camps e Pérez poderão vir a ser considerados inabilitados para o desempenho das funções. Invocando prejuízos de vária ordem, os clubes têm estado incondicionalmente ao lado da liga, havendo apenas um deles em contramão: o Real Madrid.
Recuemos um pouco no tempo para melhor se perceber o conflito. Por decisão de Carmen Pérez, com total guarida e apoio da RFEF, as jornadas de fim de semana de La Liga terão de ser obrigatoriamente disputadas aos sábados e aos domingos. A exclusão das sextas-feiras e das segundas deixou os clubes em estado de choque. Há quem considere a decisão trágica e atentatória dos interesses do futebol espanhol.
Como forma de protesto contra a RFEF e solidariedade para com a liga, os clubes de La Liga fizeram-se fotografar juntos, notando-se a já prevista ausência do Real Madrid. Na sequência desse encontro, Fernando Roig, presidente do Villarreal, falou ao jornal “El País” na qualidade de portavoz oficioso do grupo.
“Desastre e ruína”
Fernando Roig afirma não saber como “a situação chegou a este ponto”, até por entender que “os acordos dos últimos quatro anos foram muito positivos para o futebol espanhol”. “Não entendo como é que se muda algo que está a correr bem através de um decreto real. Quando as coisas funcionam bem, não é preciso mudá-las.”
Roig fala de compromissos assumidos. “Temos estado a trabalhar com contratos e seria um desastre e uma ruína que não se cumpram e não se possa jogar à segunda e à sexta.”
Uma das consequências da limitação de horários implica baixar os preços dos bilhetes, para captar atenção quando jogam os grandes. Roig garante que a diminuição das receitas terá incidência até nas outras modalidades dos clubes. “A primeira questão é que não poderemos cumprir com os compromissos firmados com os nossos jogadores nem depois poderemos ajudar os outros desportos. Seria um autêntico desastre, porque os contratos são para cumprir. Tudo o que melhorou nos últimos anos no futebol espanhol seria atirado borda fora. La Liga tem assinados mais de 60 contratos em todo o mundo e graças a eles ajuda-se o futebol feminino e o de formação. No Villarreal destinamos cerca de um milhão de euros das nossas receitas para ajudar o basquetebol, o futsal e o andebol de Castellón.”
Nos últimos cinco anos em que os clubes foram livres de marcar os horários dos respetivos jogos, o valor dos direitos televisivos passou de 600 milhões de euros em 2014 para 2,3 mil milhões na atualidade. Fernando Roig apoiase nos números e em exemplos concorrentes. “Todos foram beneficiados nestes anos. A receita da Federação quase triplicou. Os árbitros ganham o dobro do que ganhavam. E a Premier League [Inglaterra] começa este fim de semana na sexta-feira e não se passa nada.”
A guerra dos horários é também uma questão regulamentar, porque a RFEF argumenta que são dela as competências nesta matéria dos horários.
Fernando Roig pega nesta argumento e dispara contra Luis Rubiales que, antes de liderar a federação, foi presidente da AFE (Associação de Futebolistas Espanhóis).
“Sou o presidente mais antigo da primeira e segunda ligas. Desde 1997 já vi de tudo. Quantas queixas há agora de jogadores que não recebem e quantas havia antes? Perguntem à AFE quantas queixas teve de 2010 a 2013. Se o que pretendem é que o futebol espanhol não vá bem, que haveremos de fazer? O futebol paga à Fazenda todos os anos 1300 milhões de euros. A dívida de 750 milhões que tínhamos em 2012 está controlada e estará paga em pouco tempo. O que querem mais de nós? O que é que prejudica jogar às segundas e sextas?”