O Jogo

O reaparecim­ento de um velho Porto

- Jorge Costa

O FC Porto deu ontem a resposta obrigatóri­a, depois do desaire com o Krasnodar. Mas fez alguma coisa de extraordin­ário? Não, este foi afinal um velho Porto, o Porto que conquistou o campeonato há duas épocas e que jogou assim na maior parte da época passada. O FC Porto das duas últimas derrotas não é aquele que estamos habituados a ver. A forma poderosa como entrou no jogo de ontem, agressivo sobre a bola, rápido a reagir à perda, demolidor a atacar, deixou o V. Setúbal sem respiração, sem nunca conseguir encontrar espaço para perturbar Marchesin (fê-lo apenas por uma vez na primeira parte). De resto, o jogo foi jogado em 60/70metros, um jogo de um só sentido; na segunda parte, e quando o V. Setúbal conseguiu alargar esse espaço, o FC Porto soube fazer a gestão como tem que fazer uma equipa grande. E ficaram alguns golos por marcar. Não houve novidades tácticas ou estratégic­as. Foi uma equipa a jogar em 4x4x2, como sempre, com um bom trabalho dos médios Romário Baró e Luiz Diaz, a procurarem bem os espaços interiores. Foi então uma resposta excelente, viu-se também, por vezes, uma equipa que parecia revoltada contra o mundo, mas só tem que estar revoltada com ela própria e com aquilo que fez menos bem nos jogos com o Gil Vicente e o Krasnodar. Este foi um FC Porto que deu outra vez prazer ver jogar – os primeiros 20 minutos são de um nível muito elevado e que abre naturalmen­te certezas para o que vai o FC Porto nesta temporada.

Para isso também muito contribuem, alguns dos reforços e julgo que, ao cabo de quatro jogos oficiais, correndo riscos de o futuro me vir a desmentir, já é possível olhar para alguns dos reforços. E começo pela baliza. Tirando Casillas, que é um caso à parte, e será sempre um caso à parte pela sua extrema classe, julgo que há muito tempo que o FC Porto não tinha um guarda-redes tão bom. Mesmo nas derrotas, Marchesin esteve sempre a alto nível. Não há dúvidas que o FC Porto acertou em cheio com a contrataçã­o de Marchesin. Já na defesa, a contrataçã­o de Saravia parece-me falhada em absoluto. É certo que estamos a falar de um internacio­nal argentino e vamos até dar o beneficio da dúvida relacionad­a com a adaptação necessária a um jogador que vem habituado a outros futebóis. Pois é, mas o que vou dizer de Uribe se calhar contraria esta minha ideia. Chegou há duas semanas e está em grande no meio-campo do FC Porto. Não é um jogador que dê muito nas vistas, mas tem um sentido de posição impecável, lê bem o jogo, é bom no passe, é um médio que vai vencer na equipa. E só chegou há duas semanas… Luiz Díaz é outra agradável surpresa. Vai fazer esquecer Bhraimi, pela sua velocidade, pela capacidade de remate, pela alegria que solta em campo com um futebol enérgico. Não terá a capacidade de drible do argelino, não é fácil, mas também se dá bem nesse particular, porque é muito bom tecnicamen­te. Ganhou aquele espaço na esquerda. Zé Luís, com uma noite de sonho, demonstrou mais uma vez o valor que tem. Sim, porque já todos o conhecíamo­s e tenho a certeza que numa equipa grande, como é o caso do FC Porto, será um dos melhor marcadores do campeonato. Outro caso, Nakajima. Eu julgo que todos gostamos de Nakajima, todos esperamos muito dele, mas não sei se ele não estará a cusar essa pressão - a própria imprensa nipónica carrega muito sobre ele, o que é natural. Nakajima terá de se libertar desta pressão para ser aquilo que é, um pequeno grande futebolist­a.

Este é o Porto que foi

campeão há duas épocas e que jogou assim na maior parte

da época passada

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Jogo do Bicho

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