É PRECISO MAIS O Benfica deixou-se usar
Acarta aberta dos intelectuais e criativos benfiquistas à Direção encarnada contém dois manifestos. O primeiro, mais estrito e premente, tem que ver com a defesa do clube de uma usurpação populista e extremista, que muito o desonra. O segundo, mais lato e relevante, tem que ver com o espaço que o futebol ocupa na sociedade, e que todos os dias volta a ser preciso pôr em perspetiva. O que o documento ontem divulgado diz, e que nem sempre fica claro para toda a gente no contexto (por exemplo) do humor de Ricardo Araújo Pereira, é: há coisas mais importantes do que o futebol – desde logo, a civilização. Desse ponto de vista, e tendo em conta a generalidade dos sócios do Benfica, a intervenção peca por tardia. Há muito que André Ventura faz este número, e não era difícil prever que obteria estes resultados. A extrema-direita chegou ao parlamento um pouco por toda a Europa, e em vários países até já está no governo. Daí que a primeira resposta do clube seja de uma timidez confrangedora. Evidentemente, este é um assunto que o coloca em posição delicada. Começa a haver mercado à volta de Ventura e já há muito mercado à volta daqueles que o ajudaram a chegar à Assembleia. Foi imprudente deixar avolumar o problema. Mas o futebol não é só mercado – ainda não é. Portanto, quero acreditar que se trate de uma questão de tempo até Luís Filipe Vieira encontrar uma formulação para enfrentar o assunto. Não basta dizer que o Benfica é um clube inclusivo. É preciso condenar a utilização do seu nome para a promoção de um projeto político chauvinista como o do Chega. E, sim, de uma persona política como André Ventura. Joga-se demasiado aqui. E o Benfica, instituição centenária e com estatuto de utilidade pública, deixou-se estar demasiado tempo dentro do jogo para, agora, simplesmente se reclamar fora dele.