O Jogo

PORTUGUESE­S A DU PLICAR

O futebol tem crescido no país e até há dedo português pelo meio, mas ali o jogador trabalha (e recebe) a dobrar

- FRANCISCO SEBE

TRABALHAR DE DIA E TREINAR À NOITE: O MOTE DOS JOGADORES QUE SEGUEM CARREIRA NO LUXEMBURGO

Só um contrato de trabalho profission­al permite aos jogadores terem acesso a benefícios na saúde

São cerca de 100 mil os portuguese­s que vivem no Luxemburgo. Uma pequena parcela é composta por futebolist­as e exjogadore­s que se dividem entre os relvados e outro emprego

A inédita participaç­ão do Dudelange na fase de grupos da Liga Europa e a melhoria verificada nas qualificaç­ões da seleção do Luxemburgo para Europeus e Mundiais são as provas do desenvolvi­mento do futebol no grão-ducado. Num território com uma comunidade portuguesa expressiva, não é difícil encontrar reflexos dessa presença no futebol. Aliás, o líder do campeonato é treinado por Fangueiro, que brilhou por cá ao serviço de Leixões ou V. Guimarães, entre outros. Nãoéo único.

O campeonato luxemburgu­ês não é propriamen­te um eldorado. Mantém um estatuto amador e isso é algo que se reflete diretament­e na vida dos jogadores da BMG League, o principal escalão competitiv­o do país. Essa realidade toca a 20 futebolist­as portuguese­s, que, ali, trabalham a dobrar .“O campeonato é amador e há muitos contratos duplos. [Os jogadores] têm um trabalho durante o dia eà noite vão para os treinos. Para efeitos de reforma, para terem direito a benefícios de saúde, só através de um contrato profission­al”, explica Fangueiro a O JOGO. “Cheguei ao Luxemburgo com 35 anos. Ganhei algum dinheiro na minha carreira, mas não o suficiente para não fazer nada, até porque tenho quatro filhos”, refere, antes de explicar como se processou a mudança para o Luxemburgo, na época 2011/12: “Vim com a possibilid­ade de jogar e de um dia treinar. Mas tinha de trabalhar, e passados quatro meses arranjei um emprego. Onde se recebe mais? Há jogadores que recebem mais a jogar do que no outro trabalho. Por aí, já dá para ver a qualidade de vida.”

João Coimbra, jogador formado no Benfica, rumou ao grão-ducado em 2018 e assinou pelo Mondorf-les-Bains, onde se mantém. “Disse ao agente Alberto Machado, meio a brincar,meio a sério, que não arranjava nada em Portugal. Ele falou como treinador Paulo Gomes, que mostrou interesse ”, recorda o médio. Aos 33 anos, tem um avida estável :“A maior parte trabalha e joga. O ordenado mínimoé de 2000 euros, juntando isso com o salário do futebol… E há a perspetiva de continuar a trabalhar, algo de futuro no pós-futebol”, conta a O JOGO, assegurand­o ter emigrado a pensar na vertente desportiva. “Vim pelo futebol, quem sabe para voltar a jogar nas provas europeias. Mas, com dois trabalhos, a disponibil­idade já nãoéa mesma ”, remata.

Nem sempre é fácil convencer os futebolist­as a uma mudança tão radical, adotando esse estilo devida dupla. Quem o diz é Celso Duarte, empresário brasileiro casado com uma portuguesa e radicado no Luxemburgo. “Ficam reticentes. Há que fazê-los compreende­r que podem ter maior estabilida­de. O nível competitiv­o, claro, não é como em Portugal”, assinala. Ainda assim, a verdade é que o panorama está a melhorar. “Há clubes que dão condições: casa, carro, prémios de 400 euros por vitória. Alguns

já conseguem ter esse peso ”, diz Celso Duarte.Fangueiro corrobora e aponta margem de progressão :“O futebol luxemburgu­ês está a crescer. Para jogadores de Portugal ou de países fronteiriç­os, como Bélgica, França ou Alemanha, é fácil vir para aqui.”

Contar ao certo os portuguese­s envolvidos nas várias tarefas associadas ao futebol, entre dirigentes, treinadore­s ou jogadores,é missão impossível, e muitos deles já são de segunda geração. Dany Mota, o internacio­nalportugu­êssub -21“fabricado no Lux em burgo”é um bom exemplo dessa realidade. E merece por isso ser tratado à parte.

“Há jogadores que recebem mais a jogar do que no outro trabalho. Por aí se vê o nível”

Carlos Fangueiro

Treinador do Titus Pétange

“O ordenado mínimo é de 2000 euros, a que se junta o salário do futebol... ”

João Coimbra

Jogador do Mondorf-les-Bains

“Há clubes que já dão casa, carro e 400 euros de prémio por vitória”

Celso Duarte

Empresário

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Pétange, treinado por Fangueiro, lidera a liga luxemburgu­esa
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