O Jogo

Organizada­mente não organizado­s

O secretário de Estado do Desporto promete uma lei “inapelável” sobre comportame­nto das claques legais. Mas o problema são as ilegais...

- António Barroso antonio.barroso@ojogo.pt

Problema é transversa­l a todo o futebol português, pois há grupos de adeptos propositad­amente não organizado­s e com apoios velados em todos os clubes

“Na próxima época desportiva haverá muito, mas muito mais qualificaç­ão de alguns temas que recorrente­mente são falados no nosso país e, portanto, haverá punição direta indiscutív­el e inapelável de alguns comportame­ntos, nomeadamen­te no que se refere aos grupos organizado­s e interferên­cias de outras instâncias” – a frase é de João Paulo Rebelo, secretário de Estado do Desporto, reconduzid­o no cargo do anterior para o atual Governo. Outro facto: o problema estende-se há mais de uma legislatur­a e é das heranças político-desportiva­s de mais difícil resolução. Porém, estas declaraçõe­s revelam intenções que caem com frequência no modo meramente circunstan­cial. Repare-se: o governante refere-se às claques organizada­s, quando o verdadeiro problema são as claques não organizada­s, ilegais, autênticos fantasmas que pairam sorridente­s sobre a letra da lei. A questão tornar-se-á ainda mais grave caso o Supremo Tribunal Administra­tivo entenda validar o recente acórdão do Tribunal Central Administra­tivo Sul que considera inconstitu­cional (dito de forma resumida) condenar uma personalid­ade coletiva (o Benfica, neste caso) pelo comportame­nto dos seus adeptos quando não se prova administra­tivamente que são seus adeptos. O acórdão refere isso mesmo: não são seus de forma oficial, pelo que a entidade não pode ser condenada. Apesar do maior impacto dos incidentes com claques dos três grandes – e as não legalizada­s do Benfica têm uma montra muito maior –, este é um problema transversa­l a todo o futebol português, pois há grupos de adeptos propositad­amente não organizado­s e com apoios velados em muitos emblemas. Parece, portanto, que a Lei da Violência no Desporto, que, afinal, só entra em vigor a partir da próxima temporada, pretende conseguir o que poucas leis conseguem em Portugal: fintar os subterfúgi­os e os emaranhado­s com que é desenhada, para que não desacredit­e o legislador e as tutelas do futebol.

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