O Jogo

A PAIXÃO SEGUNDO O LUÍS

Luís Freitas Lobo fala das emoções de um novo livro, que surge num contexto especial, uma vez que abdicou de comentar jogos do campeonato português

- CARLOS PEREIRA SANTOS

“O Futebol com que Sonhei” é o título do mais recente livro de Luís Freitas Lobo. Foi também o motivo para uma conversa com o comentador, que abdicou de comentar jogos do futebol português

Perdeu-se um advogado, ganhou-se um comentador desportivo, cuja existência se confunde com o próprio futebol. Ou melhor, com “O Futebol com que Sonhei”, título do novo livro de Luís Freitas Lobo, que é lançado amanhã à noite na FNAC.

Como é que nasce o título deste livro?

— O título surge da minha essência. O futebol com que sonhei dá ideia de ser uma coisa do passado, e de certo modo é, é um livro quase nostálgico, mas não é um livro de alguém sem esperança. É um livro de alguém que tem a esperança de que, pensando no passado, os problemas do presente já não conseguem perseguir-te. Neste livro, procuro falar daquilo com que sonhei e daquilo com que sonho.

É um livro sobre tática?

—Este livro é mais sobre jogadores e sobre aquilo que é o imaginário que eles me transmitem desde miúdo, e que ainda hoje me transmitem. Também falo de táticas, claro, das que mais aprecio.

Que tipo de histórias podemos encontrar?

—Podem encontrar histórias minhas, desde o primeiro jogo da Seleção que me lembro de ter visto, a sensação que tinha quando via jogar um baixinho a marcar golos, o Muller, ou a recordação que tenho de jogadores como o Jacinto João ou o Chalana, e de tantos outros até ao presente; de jogadores que me fazem romancear mais o jogo, como o Riquelme, o Pilro, o Cantona, o Ibrahimovi­c. Podem encontrar memórias minhas do que sentia quando via jogos a preto e branco, como ficava feliz por ver Portugal empatar 0-0 com a Escócia – acho que ficávamos todos. Dos primeiros jogos que vi nos pelados; continuo a ser um nostálgico dos campos pelados.

O livro também é um convite para uma viagem ao passado?

—É um convite para uma viagem através da forma como vi as coisas. Gosto de me divertir com a realidade e entrar num mundo de fantasia.

Quando é que nasceu a ideia de seres comentador desportivo?

—Desde sempre. Tinha oito ou nove anos e já fazia relatos de jogos que simulava com caricas, em minha casa. Fazia os meus jornais também. Tenho isso tudo guardado. Faço isto hoje, com 50 anos, como fazia quando era miúdo. O entusiasmo é o mesmo.

Curiosamen­te,nuncajogou futebol e é uma paixão tão grande!

—Não joguei futebol federado, mas joguei muito à bola. Também sonhei ser jogador de futebol, mas temos limites. Quando adormecia, era um grande jogador, quando acordava não...

Tiraste um curso de Direito, mas nunca exerceste. Porquê?

—A vida é que decidiu que tinha de ser o que sou. Era comoandare­mcontramão­na autoestrad­a sem ponto para fazer inversão de marcha. Os meus pais sabiam que era inevitável, mas insistiram que eu tirasse Direito para ter uma segurança. Entreguei a cédula...

Voltemos ao livro. É uma obra de emoções?

—É um livro de emoções, como eu sou uma pessoa de emoções. Há referência­s à tática, claro, mas esse registo do Luís Freitas Lobo das transições ofensivas, do jogo entre linhas, não está lá.

Porque é que deixaste de comentar os jogos do campeonato português?

—Por uma razão fundamenta­l: quero proteger a minha paixão e, neste momento, comentar jogos de futebol em Portugal é estar num hospício a céu aberto. Há pessoas que não querem ouvir falar de futebol, encontram segundas intenções em tudo e levantam polémicas sem sentido. Será assim enquanto o ambiente estiver desta forma, e este ambiente é estimulado pelos clubes e pela comunicaçã­o dos clubes, principalm­ente nas redes sociais. Sei onde a serpente pôs o ovo. Enquanto as coisas estiverem assim, estou fora.

“Comentar jogos em Portugal é estar num hospício a céu aberto”

Luís Freitas Lobo

comentador

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