O Jogo

“É preciso distribuir melhor o dinheiro”

JAVIER TEBAS Alerta O líder de La Liga diz que as decisões de UEFA e FIFA têm afetado as ligas nacionais e a maioria dos seus clubes, em benefício de apenas uns quantos

- ANTÓNIO PIRES

Javier Tebas, líder de La Liga, critica opções da FIFA e da UEFA

Frontal, sem medo das palavras, o dirigente espanhol vê com preocupaçã­o o caminho que o desporto-rei está a tomar e fala mesmo em “incompetên­cia” na forma como se está a gerir o futebol

Nascido na Costa Rica há 57 anos, J avier Te bastem raízes familiares em Huesca e foi no clube desta cidade que iniciou a sua ligação ao futebol, passando mais tarde pelo Badajoz. Em 2013 ganhou as eleições para presidente da liga espanhola, tendo apresentad­o no passado dia 2 a demissão para forçar eleições e candidatar-se de novo ao cargo. Em novembro, aquando da presença em Lisboa como orador da Web Summit, deu uma entrevista a O JOGO onde defendeu maior poder para as ligas nacionais e traçou linhas vermelhas que não aceita ver ultrapassa­das.

Quais são os principais desafios que se colocam às ligas nacionais?

—O desafio maior é que as grandes instituiçõ­es, como a FIFA e a UEFA, vão tomando decisões que afet amova lord as competiçõe­s nacionais. E se afetam o valor das provas nacionais, então afetam a maioria dos clubes que as disputam. Podem beneficiar uns poucos clubes, mas, para as ligas nacionais e a maioria dos emblemas, essas decisões e mudanças estão a ser altamente prejudicia­is.

O que podem então fazer?

—No âmbito da UEFA, desde o mês de maio, quando parecia que ia sair o novo formato da Champions, fizemos muitas reuniões com clubes, explicámos-lhes bem o que se estava a passar. Terá de haver uma mudança na forma de governar e decidir nas instituiçõ­es do futebol. Foi dado um peso excessivo aos grandes clubes e pouco às ligas, que representa­m todos os clubes, as competiçõe­s, e estão a criar riqueza para todo o futebol. As ligas nacionais têm de ter muito maior peso nas decisões. Não basta virem só consultar-nos; têm de procurar acordos e entendimen­tos connosco.

Considera que existe pouca solidaried­ade da parte dos clubes mais ricos para com os restantes?

—Não entendo que seja um problema de solidaried­ade. É uma questão de não entenderem os efeitos que certas medidas têm sobre as próprias competiçõe­s nacionais onde jogam e os danos que estão a causar. Neste caso, eu chamar-lhe-ia incompetên­cia na forma como se deve gerir o futebol europeu e mundial.

Os clubes mais poderosos têm cada vez maiores receitas, mas grande parte dos outros tem dificuldad­es em cumprir as suas obrigações financeira­s. É isso que conduz a que, em certas ligas, haja clubes quase sem concorrênc­ia, nomeadamen­te em Itália, Alemanha e França, onde Juventus, Bayern e PSG ganham campeonato­s atrás de campeonato­s?

—Isso podia levar-nos a uma análise mais profunda. Os grandes clubes estão a procurar competiçõe­s que só criam maior riqueza para eles, mas estão a cometer um erro gravíssimo. Já estão num nível em que isso só serve para pagarem mais aos seus jogadores. Pagam para que estes comprem mais um Ferrari ou um Lamborghin­i, mais uma casa...

Os melhores futebolist­as, em vez de terem quatro Ferraris, passam a ter seis... Penso que é preciso trabalhar para distribuir muito melhor o dinheiro desta indústria. Não estamos no caminho correto. Os grandes pedem mudanças nos formatos competitiv­os, pressionam a UEFA e a FIFA para conseguire­m ainda mais dinheiro.

Mas há que fazer um planeament­o mais sério e claro sobre para onde queremos levar a indústria do futebol, na Europa e no mundo.

O novo Mundial de Clubes que a FIFA está a desenhar não vai ter um impacto ainda maior do que as alterações na Champions e provas europeias?

—Não, porque se vai disputar de quatro em quatro anos, ao contrário do projeto inicial, que apontava para ser jogado anualmente. Depois temos de esperar para ver como vai ser repartido o dinheiro; a ver se se dão conta de que este tipo de projetos não pode servir só para os clubes ricos ganharem mais. A chave está na distribuiç­ão das receitas.

Não teme a criação de uma Superliga ao estilo NBA?

—Há pessoas que trabalham nesse sentido, admito isso. Mas trabalhare­i com todas as minhas forças para que não exista um modelo NBA, Super liga ou algo de similar. Seria a destruição de todas as ligas nacionais.

É também por isso que as ligas nacionais não podem aceitar futebol europeu aos fins de semana?

—Para mim, há duas questões onde traço uma linha vermelha, que não aceito que seja ultrapassa­da: uma é o futebol europeu ser jogado aos fins de semana; a outra é que as ligas, como a espanhola, que são disputadas por 20 clubes sejam obrigadas a ter campeonato­s de 18 equipas.

JAVIER TEBAS

“Foi dado um peso excessivo aos grandes clubes e pouco às ligas. As ligas nacionais têm de ter maior peso nas decisões – não basta virem só consultar-nos”

“Trabalhare­i com todas as minhas forças para que não exista um modelo Superliga ou similar. Seria a destruição das ligas nacionais”

“Não aceito que o futebol europeu seja jogado aos fins de semana” “Estamos a falar de um jogo entre 380 que são disputados”

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