“É preciso distribuir melhor o dinheiro”
JAVIER TEBAS Alerta O líder de La Liga diz que as decisões de UEFA e FIFA têm afetado as ligas nacionais e a maioria dos seus clubes, em benefício de apenas uns quantos
Javier Tebas, líder de La Liga, critica opções da FIFA e da UEFA
Frontal, sem medo das palavras, o dirigente espanhol vê com preocupação o caminho que o desporto-rei está a tomar e fala mesmo em “incompetência” na forma como se está a gerir o futebol
Nascido na Costa Rica há 57 anos, J avier Te bastem raízes familiares em Huesca e foi no clube desta cidade que iniciou a sua ligação ao futebol, passando mais tarde pelo Badajoz. Em 2013 ganhou as eleições para presidente da liga espanhola, tendo apresentado no passado dia 2 a demissão para forçar eleições e candidatar-se de novo ao cargo. Em novembro, aquando da presença em Lisboa como orador da Web Summit, deu uma entrevista a O JOGO onde defendeu maior poder para as ligas nacionais e traçou linhas vermelhas que não aceita ver ultrapassadas.
Quais são os principais desafios que se colocam às ligas nacionais?
—O desafio maior é que as grandes instituições, como a FIFA e a UEFA, vão tomando decisões que afet amova lord as competições nacionais. E se afetam o valor das provas nacionais, então afetam a maioria dos clubes que as disputam. Podem beneficiar uns poucos clubes, mas, para as ligas nacionais e a maioria dos emblemas, essas decisões e mudanças estão a ser altamente prejudiciais.
O que podem então fazer?
—No âmbito da UEFA, desde o mês de maio, quando parecia que ia sair o novo formato da Champions, fizemos muitas reuniões com clubes, explicámos-lhes bem o que se estava a passar. Terá de haver uma mudança na forma de governar e decidir nas instituições do futebol. Foi dado um peso excessivo aos grandes clubes e pouco às ligas, que representam todos os clubes, as competições, e estão a criar riqueza para todo o futebol. As ligas nacionais têm de ter muito maior peso nas decisões. Não basta virem só consultar-nos; têm de procurar acordos e entendimentos connosco.
Considera que existe pouca solidariedade da parte dos clubes mais ricos para com os restantes?
—Não entendo que seja um problema de solidariedade. É uma questão de não entenderem os efeitos que certas medidas têm sobre as próprias competições nacionais onde jogam e os danos que estão a causar. Neste caso, eu chamar-lhe-ia incompetência na forma como se deve gerir o futebol europeu e mundial.
Os clubes mais poderosos têm cada vez maiores receitas, mas grande parte dos outros tem dificuldades em cumprir as suas obrigações financeiras. É isso que conduz a que, em certas ligas, haja clubes quase sem concorrência, nomeadamente em Itália, Alemanha e França, onde Juventus, Bayern e PSG ganham campeonatos atrás de campeonatos?
—Isso podia levar-nos a uma análise mais profunda. Os grandes clubes estão a procurar competições que só criam maior riqueza para eles, mas estão a cometer um erro gravíssimo. Já estão num nível em que isso só serve para pagarem mais aos seus jogadores. Pagam para que estes comprem mais um Ferrari ou um Lamborghini, mais uma casa...
Os melhores futebolistas, em vez de terem quatro Ferraris, passam a ter seis... Penso que é preciso trabalhar para distribuir muito melhor o dinheiro desta indústria. Não estamos no caminho correto. Os grandes pedem mudanças nos formatos competitivos, pressionam a UEFA e a FIFA para conseguirem ainda mais dinheiro.
Mas há que fazer um planeamento mais sério e claro sobre para onde queremos levar a indústria do futebol, na Europa e no mundo.
O novo Mundial de Clubes que a FIFA está a desenhar não vai ter um impacto ainda maior do que as alterações na Champions e provas europeias?
—Não, porque se vai disputar de quatro em quatro anos, ao contrário do projeto inicial, que apontava para ser jogado anualmente. Depois temos de esperar para ver como vai ser repartido o dinheiro; a ver se se dão conta de que este tipo de projetos não pode servir só para os clubes ricos ganharem mais. A chave está na distribuição das receitas.
Não teme a criação de uma Superliga ao estilo NBA?
—Há pessoas que trabalham nesse sentido, admito isso. Mas trabalharei com todas as minhas forças para que não exista um modelo NBA, Super liga ou algo de similar. Seria a destruição de todas as ligas nacionais.
É também por isso que as ligas nacionais não podem aceitar futebol europeu aos fins de semana?
—Para mim, há duas questões onde traço uma linha vermelha, que não aceito que seja ultrapassada: uma é o futebol europeu ser jogado aos fins de semana; a outra é que as ligas, como a espanhola, que são disputadas por 20 clubes sejam obrigadas a ter campeonatos de 18 equipas.
JAVIER TEBAS
“Foi dado um peso excessivo aos grandes clubes e pouco às ligas. As ligas nacionais têm de ter maior peso nas decisões – não basta virem só consultar-nos”
“Trabalharei com todas as minhas forças para que não exista um modelo Superliga ou similar. Seria a destruição das ligas nacionais”
“Não aceito que o futebol europeu seja jogado aos fins de semana” “Estamos a falar de um jogo entre 380 que são disputados”