O Jogo

“Witsel foi o que me deu mais prazer”

José Boto deu indicações a Vieira para atacar o internacio­nal belga, pois acreditava que este seria uma mais-valia desportiva e financeira

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Nem tudo correu de feição nas avaliações do antigo scout do Benfica. Djuricic, por exemplo, era uma grande aposta e tornou-se uma desilusão, ao ponto de Boto o apelidar de “flop”

Caso o Benfica tenha capacidade para manter nas suas fileiras os melhores jogadores da formação, Boto é da opinião de que o clube pode ambicionar lutar pela Champions com os grandes da Europa. Também acredita que o Benfica pode ganhar a Champions com jogadores formados no clube? —É possível se o Benfica tiver capacidade para reter esse talento, o que me parece difícil, porque, hoje em dia, os valores que se praticam no mercado não são compatívei­s com a realidade portuguesa. Imaginem o que seria se o Benfica tivesse Bernardo Silva, João Félix, Renato Sanches, etc. durante vários anos… seria uma das equipas mais fortes da Europa. Não tenho dúvidas de que, se isso acontecess­e, seria capaz de ombrear com os clubes que normalment­e ganham a Liga dos Campeões. Que jogador, ou jogadores, mais gozo lhe deu indicar ao departamen­to técnico? —O que me deu algum prazer foi o Witsel. Num ano teve uma valorizaçã­o brutal, passou a valer cinco vezes mais: custou oito milhões e foi vendido por quarenta. Em sentido inverso, qual foi a maior deceção que teve? —Tinha uma enorme esperança no Djuricic, que era um jogador que eu achava que iria atingir um patamar altíssimo. Não deu no Benfica e nem nos outros clubes por onde andou. Às vezes não rendem num determinad­o clube, mas depois as coisas mudam noutro. Não foi o caso do Djuricic. Jovic também foi indicado por si? —Sim. Não resultou no Benfica. Julgo que na altura não teve o enquadrame­nto perfeito, não por culpa de ninguém, mas pelas próprias circunstân­cias do clube e dos jogadores que havia para a posição. Mas não podemos considerar um jogador que hoje está no Real Madrid um “flop”. O Djuricic sim, porque, por todos os clubesporo­ndepassou,nunca teve a afirmação que o seu potencial deixava antever. Deixou de dormir por causa de uma avaliação errada de um jogador? —Claro, mas nesta vida não temos muito tempo para chorar, isto corre muito depressa. No dia seguinte, já estávamos noutro sítio, a pensar noutro jogador. Por ter tido tanta visibilida­de, foi pretendido por algum dos rivais do Benfica? —Preferia não falar sobre isso [risos]. Jorge Jesus tentou levá-lo para o Sporting? —É passado, não vale a pena estar a falar sobre isso. Trabalhou com vários treinadore­s no Benfica. Quem é que aceitava melhor as suas indicações? —O Jorge Jesus era muito exigente, era muito ele, ele, ele. Mas eu sentia que, apesar das nossas muitas guerras sobre a qualidade de um jogador, ele respeitava muito as minhas opções e indicações.

Em algum momento Luís Filipe Vieira teve de tomar uma decisão por causa de um conflito entre o José Boto e um treinador? —No Benfica, para o bem e para o mal, é o presidente que toma as decisões. Ele ouvia todas as opiniões e sentia, lá está, tinha o seu “feeling” em relação a muitas questões, e acertava. Não valia a pena andarmos ali a matar-nos, porque a decisão era dele. Quais são os melhores departamen­tos de scouting do mundo? —Depende do que analisamos. Nuns casos, há departamen­tos que focam as suas escolhas no rendimento desportivo, e estaremos a falar de apostas em jogadores de 26-27 anos, que já não irão dar retorno mas vão ajudar a equipa a atingir os seus objetivos. Do outro lado, e este é o mais visível, vão buscar jogadores para desenvolvê-los durante dois anos e depois vendê-los. Esses são mais visíveis, porque as vendas potenciam os próprios departamen­tos. O Borússia Dortmund funciona muito bem, o Mónaco, o Sevilha e o PSG também.

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Jorge Jesus respeitava as indicações de José Boto
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