“OS SACRIFÍCIOS VALE RAM A PENA”
Carlo di Benedetto sente orgulho em ser o primeiro francês a jogar no FC Porto, porque sempre lhe disseram que seria impossível. Ele provou que não
Nesta entrevista, o internacional gaulês falou – em português – de quando o telefone tocou com a notícia, bem como da primeira vez que viu um jogo no Dragão Arena e do sonho de ser campeão
Carlo di Benedetto, de 23 anos, pertence a um clã de jogadores que elevou a fasquia do hóquei francês. Filho de mãe galega, Mercedes, e de pai italiano, Gianni, o avançado é o irmão mais velho de Bruno e Roberto (21), os gémeos que defendem as cores do Liceo, clube que Carlo representou nos últimos três anos, após passagens por Noisy, Mérignac e La Vendéenne. Assinou pelo FC Porto até junho de 2023 e já ganhou a Supertaça.
Conte-nos como se deu a mudança para o FC Porto, desde o primeiro contacto até ao “sim”, e depois sobre os meses até realmente entrar no Dragão. Imaginava como ia ser, houve muita ansiedade?
—Ligaram-me. Não estava à espera daquela chamada. Fiquei feliz, porque foi uma surpresa. Desde aquele minuto fiquei com vontade de começar logo – era uma ansiedade boa. É um sonho chegar a um clube tão grande; e especial, porque, sendo um francês a jogar hóquei, há muita gente que diz que nunca vais lá chegar, que é impossível, porque em EspanhaePortugalsetrabalhamuito mais e melhor do que em França. Estou aqui e é “fixe”.
É tudo como esperava?
—A nível de profissionalismo, é mais do que eu imaginava. Estou muito feliz.
Já passaram uns meses... sente-se adaptado?
—Já entrei na rotina, mas ainda estou a adaptar-me; no campeonato vou a pistas que ainda nãoconheço,masascoisasmelhoram pouco a pouco.
Já disse que vai a todas as bolas. Como se define enquanto jogador?
—É isso, nunca desisto, sou um lutador.
Jogou no Noisy, Mérignac, La Vendéenne e Liceo. Como avalia o seu trajeto e o que sente por ser o primeiro francês a jogar no FC Porto?
—Sempre me senti bem em todos os clubes por onde passei. O Liceo é um clube mítico e é na cidade dos meus avós; o FC Porto é um clube muito grande, onde desde pequeno queremosestar.Comofrancês, estar no FC Porto deixa-me orgulhoso e sinto que todos os sacrifícios valeram a pena.
Sente que está a fazer história?
—Osfranceses,aocontráriodo passado, deixaram de ter medo de sair para outros campeonatos. Queremos ajudar o hóquei francês a evoluir e é a jogar em Espanha e em Portugal que isso se faz.
O governo francês cortou orçamento no desporto, alterando os critérios do alto rendimento, e o hóquei perdeu dinheiro. Isso já está resolvido?
—Não, e a verdade é que é um momento difícil. Além disso, vamos ter os Jogos Olímpicos em Paris, em 2024, e tudo vai ser canalizado para aí. Para o hóquei, já era difícil e agora vai ser ainda mais. Nós, como jogadores, não podemos fazer nada.
Preocupa-o?
—Sim, porque estamos num momento em que estamos a melhorar, mas ainda não fizemos nada e não é a melhor altura para coisas destas acontecerem. Precisamos de apoio.
Mérignac e La Vendéenne estão num patamar inferior. Assim, que diferenças encontra entre o Liceo e o FC Porto?
—O Liceo é um clube mítico, mas o FC Porto faz tudo para queumjogadornãotenhacom oquesepreocupar:sótemosde treinar e jogar. Isso faz uma diferença brutal. E o ambiente também é diferente.
Em 2018 tinha estado no Dragão, mas na bancada, a ver a final europeia. Foi um episódio engraçado. Quer recordá-lo?
—Tinha combinado com um amigo do Liceo e outro da Oliveirense virmos ao Dragão ver a Liga Europeia, mas, quando chegámos, verificámos que nos faltava um bilhete. Então, alguém dos SuperDragões arranjou-nos um e vimos o jogo no meio deles. Foi top. Há um momento em que todos estão de pé com os braços no ar e olhavam para nós, porque estávamossentados.Então,também nos levantámos.
Nessa altura imaginava que ia voltar como jogador?
—Era um desejo, mas não imaginava.
Os adeptos gostam de si, falam consigo? O que lhe dizem?
— Às vezes, na rua falam comigo e dizem sempre que o próximo jogo é para ganhar.
Em algumas entrevistas, referiu o ambiente do Dragão Arena. É assim tão diferente do de outros pavilhões onde esteve na sua carreira? O que o apaixona?
— O ambiente é espetacular. Quando os SuperDragões começam a cantar, sentimos mais força. É um sentimento que não sei explicar.
Carlo di Benedetto foi campeão francês pelo La Vendéenne em 2015/16; no Liceo, ganhou a Supercopa em 2018; e no passado mês de outubro conquistou a Supertaça com o FC Porto
CARLO DI BENEDETTO DIZ
“Sou um lutador. (...) Nem sempre fui avançado de área, mas passei a ser no Liceo e gosto”
“A nova geração de jogadores franceses quer ajudar o hóquei do país a evoluir e isso faz-se jogando em Espanha e em Portugal”
“Quando os SuperDragões começam a cantar, sentimos mais força. É um sentimento que não sei explicar”
“Não conheço todas as pistas onde jogamos no campeonato, mas a que mais gostei, pelo ambiente, foi a da Sanjoanense”