“Tenho muito para dar”
Sara Moreira recupera de duas lesões contraídas em 2019 e que a impediram de garantir até agora o apuramento olímpico, mas continua a acreditar no seu potencial desportivo
A cinco vezes medalhada em campeonatos da Europa revela a OJOGO a vontade na maratona, mas abre o regresso aos 10 000 metros. Aos 34 anos, já analisa o passado, recheado, e perspetiva o futuro
FREDERICO BÁRTOLO
Sara Moreira está em recuperação de uma fratura de stress, diz ainda fazer “pouca corrida”, mas compensa com natação e bicicleta, logo depois de levar o filho à escola. A cinco vezes medalhada em campeonatos da Europa, com destaque para os ouros na meia maratona de 2016 e nos 3000 metros de 2013 em pista coberta, sonha com o apuramento para a maratona de Tóquio’2020, o que, a confirmar-se, marcaria a quarta participação olímpica. A O JOGO, abre o livro.
Sara, vamos diretos ao assunto: o apuramento olímpico ainda é viável?
—Recuperei de uma fratura no pé ocorrida em julho e outra de stress que fiz em outubro, esta última derivando da primeira lesão. Estou numa fase de recuperação, mas o apuramento olímpico ainda é um objetivo. Vai depender do regresso à forma ideal. Ainda faço pouca corrida, mas compenso com natação, elíptica e bicicleta.
Em que maratona tentará o mínimo?
—Numa da primavera, em abril. O apuramento decorre até maio. Seria ideal tê-lo conseguido durante este ano, para não ter de fazer duas maratonas quase seguidas, mas tive de reformular os planos.
Mexe com a cabeça não estar ainda apurada?
—Mexeu quando me voltei a aleijar, percebendo que não conseguia competir mais este ano. Foi difícil de gerir. Contudo, o apuramento, que é a meta, ainda é possível. Não posso pensar não ter cumprido o primeiro plano.
Tantas lesões não geram desconfiança de quem a acompanha?
—É a carga de treino própria de um atleta de alta competição. No meu caso, quis rapidamente recuperar e isso foi prejudicial. Já ultrapassei os comentários e as lesões foram comprovadas por ressonân
cias magnéticas. Já conheço bem o meu corpo e sei quando estou a chegar ao limite. Não tenho dúvidas de que tenho muito para dar ao desporto.
Falou do foco na maratona, mas o regresso aos 10 000 metros não será uma boa aposta, vendo os grandes resultados da Sara em 3 000 e 5 000?
—Gosto muito dessa distância e tenho ainda de explorála. Não sei quando será, poderá até ter de ser este ano, para tentar o apuramento olímpico. Tenho essa consciência. A maratona é a aposta de momento, mas a pista faz parte de mim: adoro lá correr. Aliás, o crosse ajuda-me no trabalho, mas é na pista e na estrada que quero ser recordada.
Aos 34 anos, já sabe quando parar? —Gostava de fazer este ciclo olímpico e outro até Paris’2024. Só depois vou pensar nisso [risos]. Consegue descrever as sensações dos três Jogos
onde esteve?
—Pequim’2008 são os mais recordados. Foi a minha estreia e não tinha noção para o que ia. Em Londres’2012, encarei a prova com muita responsabilidade Apostei nos 10 000 [14.ª], que adoro correr.
Foi uma brutalidade correr no estádio olímpico. No Rio’2016, achava que ia conseguir um grande resultado, mas infelizmente, por lesão, não foi possível [desistiu na maratona]. Ficou a desilusão. Quero outros Jogos.