O Jogo

“Não tive medo, mas não havia informação...”

Antes do coronavíru­s, houve o surto de H1N1. O antigo avançado do Freamunde, filho de Paulinho Cascavel, foi um dos poucos jogadores profission­ais infetados e recorda a OJOGO esse momento

- ANDRÉ MORAIS

Não contou à família, que estava no Brasil, mas a notícia espalhou-se rapidament­e. A rotina de uma semana isolado, no hospital, não lhe deixou traumas, mas admite que o alerta agora é maior

Com um milhão de casos em Portugal e 124 mortes , de acordo com a DGS, a Gripe A foi a maior pandemia da primeira década deste século. A Covid-19 ameaça ultrapassá­la e, até ver, nenhum jogador profission­al das ligas portuguesa­s foi ainda infetado. Há 11 anos houve dois: Gomis (Olhanense) e Cascavel (Freamunde). Foi o brasileiro, filho de Paulinho Cascavel (ex-jogador de FC Porto, V. Guimarães, Sporting e Gil Vicente), que “convocámos” para nos recordar essa experiênci­a. Ele que,entretanto, deixou de jogar e trabalha nas empresas da família.

Teve Gripe A em setembro 2009.Na altura, pouco se sabia sobre a pandemia. Quer recordar como percebeu a infeção?

—Eu estava sozinho em casa, a minha família estava no Brasil. Tive uma gripe. Sempre fui forte nas gripes, mas aquela deu-me sintomas muito intensos. Tomei medicament­os em casa, mas um dia, às 3h da madrugada, senti-me mal, e mal conseguia abrir os olhos.

Peguei no carro e fui para o Hospital de Guimarães. Sei que parei e não me lembro de muito mais. Levaram-me o carro e entregaram-me as chaves no dia seguinte. Não vi mais nada e fui internado. Lembro-me que me deram medicação e disseram que a Gripe suína era uma possibilid­ade. Mas só no dia a seguir fiz os exames.

Quando chegou o diagnóstic­o, Gripe A, não se assustou?

—Na época, não havia tanta informação. Agora até há em excesso, e alguma bem errada. Talvez por isso não tenha sentido muito medo, porque não sabia bem o que estava a acontecer. Via televisão e tal, mas não sabia. E o meu caso até era de um risco enorme, porque tive gripe A e pneumonia vírica ao mesmo tempo. Mas essa falta de informação acabou por permitir que ficasse mais tranquilo. Na altura, não havia, nem de perto, este alarme. E pelo que os números mostram, a Gripe A até foi mais forte do que este coronavíru­s em vários locais.

Seguiu-se o isolamento no hospital... —Sim. Fiquei uma semana isolado, que era o tempo que o vírus demorava a morrer. Uma enfermeira ia de manhã, outra à tarde, levavam-me medicação, semprecoom­máscara,luvas e materiais descartáve­is. A comida deixavam à porta para eu recolher. Recebi duas visitasnes­seperíodo.Sempreprot­egidas. Fiquei uma semana e acabou por ser bem mais tranquilo do que pensei no primeiro dia. Via televisão, a comida era boa. Tinha livros, jogos de telemóvel. Fui bem tratado e senti-me seguro.

Seguiu-se a fase de informar famíla, amigos e outros. Afinal era jogador profission­al na II Liga ....

—O curioso é que não contei à minha família para não os preocupar. Mas foi inevitável saberem pela comunicaçã­o social. Queriam comprar viagem, mas disse-lhes que não adiantava, porque não se podiam aproximar. A parte da notícia ser pública foi boa para ver que era querido pelas pessoas. Notei isso nos amigos mais próximos e nos que não via há algum tempo. Recebi muita solidaried­ade.

Quando começou a sentir melhoras?

—Fiquei uma semana internado,comodisse.Quandodeix­ei de estar isolado, saí. No dia em que cheguei ao hospital estava muito mal mesmo. Mas dormi e acordei melhor. No fim desse dia já estava bem melhor. Depois, nos dias seguintes, já me senti normal.

“Sempre fui forte nas gripes, mas aquela deu-me sintomas muito intensos (...) mal conseguia abrir os olhos”

“Fiquei uma semana isolado, que era o tempo que o vírus demorava a morrer”

“Não contei à minha família para não os preocupar, mas foi inevitável saberem pela comunicaçã­o social”

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