O Jogo

UMA CHAMA NO FUNDO DO TÚNEL

JOGOS OLÍMPICOS Pela primeira vez em 124 anos, o maior evento desportivo mundial foi adiado. Tóquio manterá a chama acesa até 2021

- CARLOS FLÓRIDO

O Comité Olímpico Internacio­nal não resistiu às pressões e decretou depressa o adiamento dos Jogos Olímpicos, decisão que tentava protelar até maio. A onda de choque terá proporções inéditas

“Os Jogos de Tóquio serão umaluznofu­ndodotúnel,um sinal do triunfo da humanidade”, dissera Shinzo Abe, Primeiro Ministro do Japão, há uma semana. Ontem, e depois de uma conversa telefónica com Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacio­nal (COI), foi o alemão a completar a ideia, num discurso de esperança face a um momento negro da humanidade: “Mais importante do que o desporto, neste momento é preservar a vida humana; a chama olímpica ficará em Tóquio,comoumacha­maaofundo deste túnel.”

Se os dois dirigentes conseguira­m encontrar as palavras certas para um momento inédito na história do desporto – os Jogos Olímpicos tiveram três edições anuladas pelas duas Guerras Mundiais, mas em 124 anos nunca tinham sido adiados – e mantiveram mesmo a designação Tóquio’2020 como forma de respeitar no número a tradição da Olimpíada, o intervalo de quatro anos entre cada edição, a decisão tomada ontem surgiu após uma semana de pressões intensas e as suas consequênc­iasãoporen­quantodifí­ceisde calcular. Tanto que nem uma data foi indicada no comunicado­comum:“OsJogosdaX­XXII Olimpíada, em Tóquio, devem ser remarcados para uma data posterior a 2020 e nunca depois do verão de 2021.”

Será natural que o COI procure um período semelhante – e nesse caso as datas 24 de julho - 9 de agosto de 2020 passarão para 23 de julho –8 de agosto de 2021 –, mas mudar os Jogos, mais do que obrigar a gerir uma verba de 11,5 mil milhões de euros, obrigará a mudar o calendário de boa parte dos acontecime­ntos desportivo­s do próximo ano. Ontem, a World Athletics, informou que irá procurar novas datas para o Mundial de atletismo, previsto para Eugene (Estados Unidos), entre 6 e 15 de agosto de 2021,provavelme­nteadiando­o para 2022, enquanto a FINA começou a tentar mudar o Mundial de natação, que seria entre 16 de julho e 1 de agosto, em Fukuoka, Japão. Estes são dois exemplos do que se seguirá nas próximas semanas: com 34 modalidade­s diferentes, os Jogos vão alterar por completo o mapa do desporto mundial em 2021.

Aliás, as mudanças irão colocar problemas até a um nível inesperado, como ontem ex

Adiar os Jogos Olímpicos é a decisão mais forte do desporto mundial em tempo de paz, obrigando a reformular toda a organizaçã­o competitiv­a dos próximos dois anos

plicou José Manuel Constantin­o, presidente do Comité Olímpico de Portugal: “Os estatutos do COP estipulam que as eleições têm de ocorrer a seguir aos Jogos Olímpicos de verão e que os mandatos têm a duração de quatro anos. É um assunto que será avaliado no plano jurídico”. O mesmo se poderá dizer em relação às federações desportiva­s, não só nacionais como da maioria dos países do mundo, todas com eleições previstas para o início de uma nova Olimpíada.

Decisão inevitável

Sendo esta a maior mudança no desporto mundial em tempo de paz, a verdade é que o adiamento dos Jogos já era dado como inevitável ao longo das últimas semanas, face à escalada da Covid-19, que ontem atingiu os 417 663 casos, 290 746 ainda ativos. “Na segundafei­ra, o diretor geral da Organizaçã­o Mundial de Saúde, Tedros Adhanom, disse-nos que a pandemia está a acelerar”, justificou o comunicado conjuntodo COI e do Japão, que estavam também perante outras realidades: 78% dos atletas olímpicos já eram a favor do adiamento, alguns grandes países, como o Canadá, tinham anunciado a desistênci­a e o pior estaria para vir: Estados Unidos e Grã-Bretanha, países mais medalhados no Rio’16, podem estar a caminho de uma situação incontrolá­vel.

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