Filipe Alexandre Dias
Rio Ave, para quem não repara
Lá do sítio de onde venho, o Rio Ave contava pouco, quase nada ou simplesmente inexistia nos afetos ou preocupações. Era só mais uma etapa na caminhada de um maior. Até um tempo não tão distante assim, o Rio Ave era algo alviverde a que nos fomos habituando, que fazia umas graças e pouco mais para gáudio das gentes locais, porque o vizinho e inimigo jurado Varzim era a referência lá do pedaço. Mas os tempos mudam. Se mudam… Caso não tenha reparado, cá vai. Hoje, o histórico clube de Vila do Conde é uma força a ter em conta e que afia cada vez mais o dente para morder os vizinhos de cima – o topo já não lhe é uma montanha de pico inalcançável à vista. Consistentemente presença na elite nacional, os nortenhos voltaram a conquistaram o lugar que lhe franqueia as portas da Europa com mérito, ainda que salpicado por uma dose de drama. Mais não é do que um prémio justo para a sua estrutura e aqui surge o pleonasmo: é uma organização organizada. Do rigor financeiro à ambição desportiva; da eficiente comunicação à envolvência com o público que tem uma raiz pura, antiga; da competência nos mais diversos setores, sem esquecer (dá jeito…) a qualidade dos seus jogadores, invariavelmente entregues a boas mãos técnicas. Ao Rio Ave não se lhe conhecem trapaças ou gestões dos tratantes e facínoras que esventram emblemas e os deixam sem pinga de sangue. Ali há condições que geralmente desaguam numa promessa que soa a algo “formalóide”: crescimento sustentado. Se ao Braga falta um título de campeão, o Rio Ave já “deve” uma taça a si próprio, depois de ainda ter arranhado duas Taças de Portugal (1983/84 e 2013/14) e uma Taça da Liga (2013/14). Os horizontes europeus que agora têm por diante confirmam aquilo para que muitos olham… sem observar. Caso não tenha reparado, o quinto lugar do Rio Ave é a soma de tudo isto, de uma evolução a atingir a maioridade, aconhegada por outro fator que dá um jeitaço: trabalho.