EM CIMA DO JOELHO
Smpre assim foi e será
Édifícil pedir a um sistema capitalista que tente regenerar-se, sobretudo num mercado limitado e, para mais, com uma recessão pela frente. O darwinismo é mais evidentemente próprio do sistema do que o empenho deste em procurar uma protecção global da sua indústria, em busca de um de desenvolvimento harmonioso de que, no fim, resultem benefícios para todos – e, então, sim, os agentes possam voltar a alargar os expedientes da competição entre si.
Mas é precisamente isso que o futebol português devia fazer agora, sob a égide da Liga e mesmo da Federação. A confirmar-se o estudo que a SPSG Consulting preparou para a World Football Summit, a retoma plena da modalidade não ocorrerá antes de 2024. E o limbo em que viveremos até lá podia bem (e devia) ser aproveitado para a adopção de medidas que contivessem o endividamento, reforçassem a produção de riqueza e reduzissem os riscos da fórmula do entreposto comercial, evidentemente vulnerável com a pandemia da covid-19 mas já comprovadamente estéril antes dela. Se a Liga não estivesse preocupada apenas com as disputas de poder, as estratégias eleitoralistas e os jogos de bastidores, começava já um projecto estruturado de auditoria, estratégia, regulamentação e formação destinado a reduzir as clivagens internas e a reforçar a competitividade externa do nosso campeonato e dos nossos clubes – dentro e fora do campo. Os mercados desportivos de alguns dos países mais liberais do mundo (os EUA, o Reino Unido) têm-nos proporcionado bons exemplos disso. Infelizmente, os bons passos que vamos dando persistem tímidos. Sabemos que as crises também podem ser oportunidades, mas entendemo-lo sempre a um nível conjuntural. Queremos apenas ganhar o próximo campeonato, às vezes só as próximas eleições. E não me surpreenderia que, em 2024, estivéssemos ainda mais longe do topo europeu.