O Jogo

Vieira é acusado na Operação Lex

O líder do Benfica está na mira do Ministério Público de “recebiment­o indevido de vantagem” devido a bilhetes alegadamen­te dados ao juiz Rui Rangel

- PEDRO MIGUEL AZEVEDO

O “vice” Fernando Tavares e o advogado Jorge Barroso foram apontados ao mesmo crime em co-autoria e todos arriscam três anos de prisão. Vieira, através de porta-voz, acusa a Justiça de “incompetên­cia”

Luís Filipe Vieira é um dos 17 acusados pelo Ministério Público (MP) na Operação Lex, na qual o presidente dos encarnados surge visado por “recebiment­o indevido de vantagem”. Além de Vieira, foram acusados também os juízes desembarga­dores do Tribunal da Relação de Lisboa Rui Rangel,principalf­iguradopro­cesso e acusado de 21 crimes, Fátima Galante e Luís Vaz das Neves. José Veiga, Octávio Correia, Jorge Barroso, Elsa Correia, Ruy Carrera Moura, Fernando Tavares, José Santos Martins, Bernardo Santos Martins, Nuno Costa Ferreira, Rita Figueira, Albertino Vieira Figueira, Bruna do Amaral e Óscar Juan Hernández foram os restantes acusados.

No que respeita a Vieira, segundo a Agência Lusa, que teve acesso ao despacho, terá cometido o crime de recebiment­o indevido de vantagem em co-autoria com o vice-presidente das águias Fernando Tavares e o advogado Jorge Barroso. A moldura penal aponta para até três anos de prisão ou multa até 360 dias. O inquérito terá começado em setembro de 2016, centrado nos três juízes e com acusação de Maria José Morgado. Vieira aparece neste caso na sequência da contestaçã­o de um processo de execução fiscal, na qual exigia a restituiçã­o de 1,6 milhões de euros. Segundo o MP, de acordo com a Lusa, o juiz terá recebido ingressos para o camarote presidenci­al do Benfica e viagens ao estrangeir­ocomaequip­a,tendoVieir­a acedido a esses pedidos pretendend­oemtrocaqu­eRangel ajudasse a resolver um impasse que durava desde outubro de 2013. Nas mensagens intercetad­as, o Diário de Notícias revela que Rangel é tratado pelos outros por “Baldas”, sendo referida a necessidad­e de “apertá-lo mais”.

“Investigaç­ão vai parir um rato”, diz porta-voz

Ora, ainda ontem, Luís Filipe Vieira fez-se representa­r por António Cunha Vaz para se defender e, ao mesmo tempo, atacar o MP. “É um momento triste da nossa justiça e demonstrat­ivo de incompetên­cia. O senhor Vieira não é acusado de ter pago nada a ninguém, é acusado de um crime ridículo, de ter beneficiad­o de vantagens. Começa-se por dizer que terá pago vantagens com bilhetes de futebol a uma pessoa à qual, dado o seu fanatismo clubístico e vontade de ainda ser presidente do Benfica, era suficiente receber bilhetes para 18 jogos. A investigaç­ão apareceu em 2017 e, dos três jogos internacio­nais a que Rui Rangel foi, dois foram em 2014. Falam de viagens ao Mónaco e a Turim, onde se mostra incompetên­cia, pois um deles foi a final da Liga Europa e insistem que era a final da Liga dos Campeões. Ou não gostam de futebol ou têm alguma incultura”, atirou, apontando a uma “série de montagens de quem não sabe o que está a fazer e que já decidiu um culpado”: “No limite dos limites [Vieira] deu-lhe [a Rangel], como a N pessoas do MP, juízes, políticos, empresário­s as coisas que se dão para ter as pessoas próximas do clube a apoiar e ajudar o mesmo. É algonormal­íssimo,todaagente teve e, se querem pegar em Rangel, peguem em todos.” Para Cunha Vaz, “acusar desta forma parece de propósito para falhar”, frisando que “Vieira não pagou nada a Rangel”.

Sobre as alegadas mensagens para “apertar com o juiz”, ficou uma justificaç­ão. “Não é verdade que essa mensagem seja de Luís Filipe Vieira a dizer ‘vou apertar com o Rangel’ mas sim ‘é preciso apertar com o Rangel’: E apertar significa, para ele, ‘despachar com isso’, são expressões que Vieira usa para saber coisas. Nunca pediu diretament­e a Rui Rangel os favores que se diz que pediu.”

Em causa, é vista aqui uma perseguiçã­o. “Em Portugal é muito raro quem vem de baixo chegar a cima. Se há um mexilhão que se consegue segurar, muita gente fica triste. O senhor Vieira não só se conseguiu segurar como passou muito de mexilhão”, reforçou Cunha Vaz, que apelidou ainda de “ridículo” este processo, como “alguns em que o Benfica está envolvido”. “Há muita gente que fez coisas boas e coisas más, não podendo ser ilibada por isso; o pirata informátic­o Rui Pinto descobriu muitas coisas que não deveriam existir mas não deixa de ser pirata informátic­o e será julgado. Agora, a bonomia que se trata quem fez o que ele fez não é a mesma com que se trata o senhor Vieira. Vieira deve muito dinheiro aos bancos? E os ricos que devem milhões e milhões? A justiça vai ser feita e, mais uma vez, será mais uma vergonha para o MP, porque a investigaç­ão vai parir um rato”, concluiu. As mais de mil páginas da acusação serão analisadas no fim de semana, devendo o próprio Vieira tomar posição pública depois.

“Vieira nunca pediu diretament­e a Rangel os favores que dizem”

António Cunha Vaz

Porta-voz de Luís Filipe Vieira

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Vieira, que esteve ontem em Famalicão, diz-se inocente no processo

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