UM MUNDIAL A MEIO DAÉPOCA
CICLISMO Imola recebe hoje uma corrida que por sinal manteve a data, mas num ano todo alterado. Até os favoritos são diferentes
Portugal tem Rui Costa a líder e Rúben Guerreiro como alternativa, mas as apostas são no fenómeno Wout Van Aert, ao ponto de se desvalorizar o “Dream Team”: Pogacar e Roglic juntos pela Eslovénia
Ninguém diria, mas o Campeonato do Mundo de Estrada que hoje se realiza, uma semana depois de terminar a Volta a França e no mesmo dia em que arranca em Fafe a Volta a Portugal, é um dos raros grandes acontecimentos desportivos do ano a manter as datas. Mas praticamente só conserva o dia, pois a sua sede mudou da cidade suíça de Aigle para a italiana de Imola – tendo pelo meio surgido Doha, no Catar, como hipótese –, a habitual semana de corridas reduziu-se a três dias e apenas para o escalão de elite, as regras sanitárias ditamleisenemocampeãoem título, o dinamarquês Mads Pedersen, vai alinhar. Talvez reste outra tradição, essa bem portuguesa: Rui Costa corre pela décima vez e novamente como candidato ao top 10, embora não estando entre os favoritos ao título.
Sendo na sua data habitual, e a apenas 110 quilómetros da cidade italiana onde Portugal obteve o maior êxito da sua história no ciclismo – Rui Costa foi campeão mundial em
Florença, em 2013 –, este Mundial soa a estranho por não ser a habitual festa de final de época. Com o ano totalmente alterado, ainda se vão disputar a Volta a Itália (início a 3 de outubro), Volta a Espanha (20 outubro) e quatro das cinco clássicas Monumento.
Até nos nomes dos favoritos a corrida soa a diferente. A liderar as apostas está o belga Wout Van Aert, um fenómeno vindo dociclocrosse,ondefoitricampeão mundial entre 2016 e 2018, para esta época, e aos 26 anos, ganhar a Strade Bianchi, a Milão-Sanremo e duas etapas ao sprint na Volta a França, onde ainda ajudou Primoz Roglic a levar a camisola amarela nas montanhas. Completo como raramente se viu, é bicampeão belga de contrarrelógio e anteontem foi segundo no Mundial da especialidade. Ao conjugar dotes de velocista e de trepador – teoricamente umacontradição–,asduascurtas subidas a superar por nove vezes, no traçado de 28,8 km em Imola, ambas com 2800 metros,parecemperfeitaspara eliminar sprinters e o deixarem sem opositores.
As qualidades e boa forma de Van Aert, que o colocam acima de dois outros corredores com algumas semelhanças, o francês Julian Alaphilippe e o dinamarquês Jakob Fuglsang, deixam na sombra aquela que
Com final na pista de Imola, o Mundial terá nove voltas a um circuito de 28,8 km (total de 258,2 km), entre 8h55 e 15h22
aparenta ser uma equipa de sonho, a da Eslovénia, com Tadej Pogacar e Primoz Roglic. Os doisprimeirosdoTouralinham hoje com a mesma camisola. “A minha cabeça andou por todolado,masachoqueestarei pronto para correr”, diz Pogacar, o espantoso vencedor da maior corrida do ano, que gostaria de ver... o compatriota campeão do mundo. “Seria um conto de fadas, mas esta é uma corrida dura, diferente da Volta a França, e pode transformarse num resto do mundo contra a Eslovénia”, alerta o jovem. “Esperoestarnomeumelhor”, responde Roglic, chamando a atenção para um facto curioso: a sua equipa, Jumbo-Visma, perdeu a Volta a França mas além dele faz alinhar Van Aert, Sepp Kuss (EUA), Tom Dumoulin (Holanda) e George Bennett (Nova Zelândia), todos na lista de candidatos ao título. Os derrotados do Tour tinham mesmo uma super equipa!