Um balanço nesta data querida
N a semana em que sopramos as 98 velas, vale a pena parar um pouco e fazer um balanço.
Um balanço é feito de muitas coisas, mas, no final do dia, as muitas coisas que fazem parte da essência de um clube de futebol tendem para um objetivo: a conquista de títulos.
Ora, se pensarmos em tudo aquilo que os vitorianos dão e sempre deram ao seu clube. Se refletirmos na paixão, na dedicação, na fidelidade, nos sacrifícios que gerações sucessivas de vitorianos votaram ao Vitória.
Se pusermos isso tudo num prato da balança e no outro colocarmos uma taça de Portugal, uma Supertaça e um punhado de terceiros lugares, a balança fica muito desequilibrada. E é um desequilíbrio que dói.
Dói também porque, olhamos para outros clubes e vemos que períodos houve em que conseguiram de alguma forma inverter o destino que lhes estava traçado por um campeonato completamente inquinado pela hegemonia de três emblemas.
Bem sei que alguns desses emblemas já protagonizaram (e protagonizam) verdadeiras descidas aos infernos, mas a verdade é que ostentam um palmarés a que nós ainda não conseguimos chegar. E a pergunta que se impõe é: porquê?
Haverá clube que protagonize melhores condições para conseguir firmar-se no tal lugar de quarto grande, lugar acompanhado dos títulos que os vitorianos merecem mais do que ninguém? E no entanto, esse momento tarda em chegar. E volta a pergunta: porquê?
Do que se passou até aos anos 80 pouco posso dizer, porque não andava por cá. De aí em diante, e sem querer andar a escalpelizar tudo, diria que da parte dos nossos dirigentes houve nuns casos doses excessivas de populismo, noutros de falta de sorte, noutros de falta de tempo, e muitas vezes de falta de competência que nunca permitiram a nossa estabilização no lugar que merecemos e o surgimento dos títulos que deviam estar nas nossas vitrinas.
O que é verdadeiramente incrível é que esta míngua de títulos nunca desmobilizou os vitorianos. A maior prova da nossa fidelidade é essa. Mas em contrapartida, tornou-nos ansiosos. São vidas inteiras à espera por algo que nunca chega. Já aqui escrevi que o meu pai, por exemplo, vitoriano de sempre, partiu e nem a taça de Portugal viu o seu Vitória ganhar.
Essa ansiedade, sendo perfeitamente compreensível, muitas vezes joga contra nós e alimenta o ciclo vicioso. Em sentido contrário, lembro-me do primeiro ano da presidência de Júlio Mendes. Nessa época, os vitorianos perceberam claramente que o clube vinha de ter estado muito perto do abismo e deram todo o espaço do mundo à equipa. O apoio era sempre sentido, mesmo quando íamos perdendo e empatando. Sem pressões, sem assobios, só com apoio. E no final da época ganhamos a Taça. Os cínicos dirão que foi uma feliz coincidência. Talvez. Eu prefiro pensar que os adeptos criaram condições de tranquilidade que também foram importantes na conquista.
Façamos, por isso a nossa parte por inteiro. Aprendamos com os erros do passado. Não abdiquemos do nosso espírito crítico, mas demos espaço à equipa. Esta é uma época em que, mesmo de fora do estádio, isso é ainda mais importante. E o nosso dia há de chegar.
Façamos a nossa parte por inteiro. Aprendamos com os erros. Não abdiquemos do nosso espírito crítico, mas demos espaço à equipa