O Jogo

Um balanço nesta data querida

- José João Torrinha

N a semana em que sopramos as 98 velas, vale a pena parar um pouco e fazer um balanço.

Um balanço é feito de muitas coisas, mas, no final do dia, as muitas coisas que fazem parte da essência de um clube de futebol tendem para um objetivo: a conquista de títulos.

Ora, se pensarmos em tudo aquilo que os vitorianos dão e sempre deram ao seu clube. Se refletirmo­s na paixão, na dedicação, na fidelidade, nos sacrifício­s que gerações sucessivas de vitorianos votaram ao Vitória.

Se pusermos isso tudo num prato da balança e no outro colocarmos uma taça de Portugal, uma Supertaça e um punhado de terceiros lugares, a balança fica muito desequilib­rada. E é um desequilíb­rio que dói.

Dói também porque, olhamos para outros clubes e vemos que períodos houve em que conseguira­m de alguma forma inverter o destino que lhes estava traçado por um campeonato completame­nte inquinado pela hegemonia de três emblemas.

Bem sei que alguns desses emblemas já protagoniz­aram (e protagoniz­am) verdadeira­s descidas aos infernos, mas a verdade é que ostentam um palmarés a que nós ainda não conseguimo­s chegar. E a pergunta que se impõe é: porquê?

Haverá clube que protagoniz­e melhores condições para conseguir firmar-se no tal lugar de quarto grande, lugar acompanhad­o dos títulos que os vitorianos merecem mais do que ninguém? E no entanto, esse momento tarda em chegar. E volta a pergunta: porquê?

Do que se passou até aos anos 80 pouco posso dizer, porque não andava por cá. De aí em diante, e sem querer andar a escalpeliz­ar tudo, diria que da parte dos nossos dirigentes houve nuns casos doses excessivas de populismo, noutros de falta de sorte, noutros de falta de tempo, e muitas vezes de falta de competênci­a que nunca permitiram a nossa estabiliza­ção no lugar que merecemos e o surgimento dos títulos que deviam estar nas nossas vitrinas.

O que é verdadeira­mente incrível é que esta míngua de títulos nunca desmobiliz­ou os vitorianos. A maior prova da nossa fidelidade é essa. Mas em contrapart­ida, tornou-nos ansiosos. São vidas inteiras à espera por algo que nunca chega. Já aqui escrevi que o meu pai, por exemplo, vitoriano de sempre, partiu e nem a taça de Portugal viu o seu Vitória ganhar.

Essa ansiedade, sendo perfeitame­nte compreensí­vel, muitas vezes joga contra nós e alimenta o ciclo vicioso. Em sentido contrário, lembro-me do primeiro ano da presidênci­a de Júlio Mendes. Nessa época, os vitorianos perceberam claramente que o clube vinha de ter estado muito perto do abismo e deram todo o espaço do mundo à equipa. O apoio era sempre sentido, mesmo quando íamos perdendo e empatando. Sem pressões, sem assobios, só com apoio. E no final da época ganhamos a Taça. Os cínicos dirão que foi uma feliz coincidênc­ia. Talvez. Eu prefiro pensar que os adeptos criaram condições de tranquilid­ade que também foram importante­s na conquista.

Façamos, por isso a nossa parte por inteiro. Aprendamos com os erros do passado. Não abdiquemos do nosso espírito crítico, mas demos espaço à equipa. Esta é uma época em que, mesmo de fora do estádio, isso é ainda mais importante. E o nosso dia há de chegar.

Façamos a nossa parte por inteiro. Aprendamos com os erros. Não abdiquemos do nosso espírito crítico, mas demos espaço à equipa

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Pontapé para a clínica

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