NO QUE FICAMOS? Uma camisola que canta
terceiro equipamento do Sporting é elegante e imaginativo, mas a marca d’água que o distingue deixame com a pulga atrás da orelha. Evidentemente, a autoria da canção citada dilui-se no espaço e no tempo. A melodia foi composta por Jacques Revaux para Claude François (como “Comme d’habitude”), passou pelas mãos de David Bowie, deixou-se trabalhar por Paul Anka (já como “My Way”), ganhou popularidade com Frank Sinatra e foi alvo de versões de dezenas de artistas. Mas “O Mundo Sabe Que...”, a letra cantada em Alvalade naquele momento que os leões gostam de considerar o seu próprio “You’ll Never Walk Alone”, é da autoria de Miguel Pacheco. Levou-a para as bancadas – confirma o jornal “Sporting” – Nuno Mendes, ou Mustafá, e há mesmo um disco (“Só Eu Sei Porque Não Fico Em Casa”) em que é cantada com a chancela da Juventude Leonina. E não é fácil ter a certeza, à hora a que escrevo, do que significa a opção. Na autoproclamada página oficial da Juve Leo no Facebook, a claque limita-se a congratular-se por “aqueles que foram apelidados de escumalha” continuarem, afinal, a contribuir “para o engrandecimento do Sporting”. Não sei, pois, se houve negociação de direitos da letra com a claque ou com Miguel Pacheco; se se trata de uma piscadela de olho a ela ou de uma maneira de a espoliar desse património (com a conivência do letrista); ou mesmo se não anunciará uma reaproximação, ainda não oficializada, entre as partes. Sei que qualquer outra explicação será mais um sinal do amadorismo que, depois da guerra que abriu, Varandas tem de evitar. E que, em todo o caso, continuará a querer dizer que o clube sempre precisa das suas claques. Tenho pena. O futebol português – continuo a achar – seria melhor sem elas. Mas as coisas têm o significado que têm, não aquele que gostaríamos que tivessem.