Virtude e vício ao centro
Sejamos claros nesta premissa: não há grande semelhança entre o FC Porto e o Sporting no que concerne à maturação de processos. Contudo, o leão viu premiado no clássico o seu esforço, mesmo sem ter rasgo de maior face a um adversário que deixou a equipa contrária avançar, concedendo-lhe espaço e obrigando-a a jogar horizontalmente. O dragão terá julgado que isso lhe chegava, mas aconteceu futebol, tal como disse Mourinho depois de o Tottenham assistir, não sem escândalo, a um empate serlhe arrancado das garras da vitória frente ao West Ham. Contudo, há mais diferenças que fazem a diferença, com o devido pedido de licença ao pleonasmo. A principal delas não explica tudo, mas grita na cara do público e mora no centro da defesa de um e outro rival. E sim, pode fazer a diferença. Num jogo como este, noutros de igual calibre e, sobretudo, na regularidade exigida em grandes provas. Bem entendido, falo dos centrais internacionais Pepe e Coates. Se o portista mostrou mais uma vez que os anos não lhe pesam, enchendo de arrependimento quem questionou a sua contratação – à altura “empurrou” Éder Militão para lateral, a meio de 2018/19 –, já o uruguaio deu razão à sua cada vez maior falange de críticos, tornando a ceder em encontros de muita faísca, ante opositores de peso. Pepe lidera um sector nevrálgico, pese a quantidade de golos que a turma de Conceição já sofreu quando a época é ainda uma criança, mas as dúvidas são nenhumas sobre as garantias que dá aos azuis e brancos e à Seleção Nacional. Na linha a três de Neto, o até aqui banal Feddal e Coates (perfazem uma média de idade de 30,6 anos), a maturidade que daí se poderia pressupor não está a refletir-se numa equipa jovem, talentosa, mas crua, sem os preceitos tão inculcados por um treinador que tem sete meses no cargo. Naquela conversa de 90 minutos, uma das mais importantes coisas ditas pelo clássico foi esta: onde o FC Porto tem a virtude, o Sporting tem o vício... e é dos maus.