O Jogo

O ENÉSIMO FINAL DE UMA HISTÓRIA QUE DÁ RESULTADO

O FC Porto foi melhor desde o início, o Sporting festejou mesmo no fim. Podia ser uma crónica de 2018, 2019 ou 2020, mas estamos em 2021. Jovane foi a diferença

- Textos ANDRÉ MORAIS

O golo de Marega só enganou os mais desatentos, porque a história destes clássicos não se escreve sem surpresa no fim. Como na final four de 2020, Amorim ganhou a Conceição depois da hora

Começa a ser difícil explicar estes decisivos jogos entre Sporting e FC Porto sem recorrer a lugares comuns ou deixar de repetir aquilo que se tem escrito noutras ocasiões. É evidente que há sempre um ou outro pormenor que torna o clássico diferente dos anteriores [Jovane, por exemplo, fez a diferença ontem] mas, no fundo, naquilo que mais interessa a todos os intervenie­ntes diretos e aos adeptos, o desta meia-final de Taça da Liga foi muito idêntico a quase todos os que se jogaram desde que Sérgio Conceição chegou ao FC Porto: os dragões melhores desde o início, com mais lances degolo, jogo aparenteme­nte controla doe o Sporting a fechar da melhor forma possível, numa perspetiva mais resultadis­ta e a sorrir no final, desta vez mesmo no finalzinho. Não há como resumir a história de outra maneira. Tem sido ingrato para os dragões e o final até já parece escrito antes de se começar a jogar...

Há, evidenteme­nte, mérito do Sporting neste triunfo, especialme­nte porque acreditou mais do que o FC Porto que o jogo não estava resolvido quando Marega, aos 79 minutos, inaugurou o marcador. Até então só tinha dado azul e branco, mais até na primeira parte do que na segunda, embora nem na etapa complement­ar o Sporting tenha conseguido criar um verdadeiro lance de golo. O que teve, por Nuno Santos, resultou de um choque acidental de Uribe com Pepe. Já o FC Porto, que Conceição organizou num desenho em tudo idêntico ao do rival, resolveu bem a ausência de tantos jogadores importante­s na manobra ofensiva. Só não o conseguiu fazer nas bolas paradas, em que habitualme­nte é muito forte mas, sem Sérgio Oliveira, não arranhou. No mais, os três centrais permitiram que Uribe assumisse a condução do meio sem ter de se deter em tarefas mais defensivas. João Mário (a surpresa à direita) e Zaidu reforçaram a verticalid­ade e permitiram que Felipe Anderson (outra novidade) se movesse bem entre linhas. Marega foi o primeiro a desperdiça­r um lance claro de golo (20’), ao atirar ao poste completame­nte isolado. No final da primeira parte e no início da segunda, foram Corona e Uribe após assistênci­a do maliano.

O Sporting não conseguia contrariar a dinâmica azul e branca. Ninguém sabe como teria sido com Nuno Mendes e Sporar (ver polémica nas páginas seguintes), mas essencialm­ente foi o meio campo que não funcionou. A João Mário faltou andamento, Palhinha – que podia ter sido expulso – sentiu dificuldad­es por ter de acudir simultanea­mente a Felipe Anderson e Corona, que jogaram em terreno de ninguém. Porro e Antunes tinham Zaidu e João Mário para se entreter. Com tudo isto, os três leões da frente pouco se viram. A distância para o meio-campo era enorme e só encolheu com entrada de Matheus Nunes. Foi nessa altura que o Sporting começou a melhorar, mas timidament­e, até porque Marega marcou pouco depois. O tento chegava tarde, mas justificav­a-se. Faltava aguentar o mais difícil: a histórica ponta final forte dos leões e de Rúben Amorim. Há um ano, na final da Taça da Liga, o treinador, então no Braga, ganhou aos 90+5’. Em Alvalade, no campeonato, empatou aos 87’. Já em 2019, na final da Taça da Liga, então contra o Sporting de Keizer, o FC Porto consentiu o empate aos 90+2’. E na Taça de Portugal, em 2017/18, os leões também igualaram a eliminatór­ia aos 85’. Já para não falar de vários desempates em penáltis... E ontem, talvez por estar mais limitado do que no passado, Sérgio Conceição colocou-se mais a jeito, porque sofreu o empate já sem Marega nem Corona e ficou sem muitas armas para o ataque final.

Do lado do Sporting, desta vez, a vitamina estava com Jovane, que entrou a 13’ do fim e fez dois golos em menos de 10’. Ambos de excelente recorte técnico, ambos plenos de fortuna. No primeiro beneficiou de um corte de Mbemba para a entrada da área para rematar colocado, no segundo aproveitou que Toni Martínez não conseguiu matar no peito perto da área dos leões para concluir um contra-ataque bem desenhado por Pedro Gonçalves. Com perplexida­de, e num par de minutos, era o Sporting a festejar. Como tem acontecido sempre quando se trata de um jogo a eliminar. Mesmo outra vez sem o justificar.

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