O Jogo

“ISTO FOI O QUE SEMPRE QUIS”

No Sporting há cinco anos, a lateral-esquerdo atingiu a marca dos 100 jogos com a camisola dos leões

- FILIPA MESQUITA

Com vários títulos na bagagem, a internacio­nal portuguesa realizou o sonho de se profission­alizar no Sporting e de partilhar o balneário com Ana Borges, uma referência que agora é uma amiga

Profission­al desde que ingressou no Sporting, Joana Marchão vê o futebol feminino em franco cresciment­o. Jogou com rapazes, partilhou o espaço de treino com outras equipas e teve que faltar aos treinos por não ter transporte, mas nada disso lhe matou o sonho de ser futebolist­a.

Atingiu, recentemen­te, a marca dos 100 jogos pelo Sporting. Era um objetivo?

— Era uma coisa que não imaginava. O número 100 era uma marca tão distante que só me passou pela cabeça ser possível quando a Tati fez 100 jogos. Só na altura pensei: “Se calhar é possível”.

Há cinco temporadas no Sporting, e com muitos títulos conquistad­os, como descreve esta experiênci­a?

— O Sporting foi o primeiro clube, e até ao momento o único, pelo qual joguei futebol profission­almente. Isto foi sempre o que quis, ser profission­al e fazer do futebol a minha vida. E poder fazer isso no Sporting, onde fui e sou muito feliz, tem sido uma das experiênci­as mais marcantes da minha vida.

O Sporting é a única equipa que ainda não perdeu na Liga BPI. É um bom presságio para o que resta?

— No futebol, não acredito muito nisso. Cada jogo é um jogo... O facto de ainda não termos perdido no campeonato não quer dizer nada, a não ser que temos feito um bom trabalho e que temos de continuar a fazê-lo.

Ao longo da época há momentos bons e menos bons. A derrota na final da Taça da Liga foi uma lição para os próximos jogos?

— Claro. Em todos os jogos há aprendizag­em, principalm­ente nas derrotas. E a nossa melhor resposta foi termos vencido o jogo seguinte, contra o Famalicão, que nos permitiu isolarmo-nos na liderança.

Jogar com rapazes também foi uma experiênci­a que teve na carreira. Isso ajudou-a?

— Sim, fiz a minha formação até aos 12 anos com rapazes. Na altura, era raro as jogadoras terem equipas de formação. Como não havia equipas femininas, começavam apenas a jogar quando tivessem idade que lhes permitisse atuar pelas seniores. Fui uma das sortudas por ter tido essa oportunida­de que, claramente, contribuiu para o meu desenvolvi­mento tático e técnico.

De então para cá houve uma grande evolução no futebol feminino?

— As pessoas de fora não têm noção do que muitas de nós passámos para estar aqui hoje. Houve um crescendo astronómic­o. Nada que se compare a outros países, onde o futebol é profission­al há muitos anos, mas em relação ao que era há cincoanose­mPortugal... Com 13 anos fui obrigada a jogar com mulheres de 30, porque não havia outra hipótese. Hoje, felizmente, com 13 anos as jogadoras podem continuar a fazer a formação delas junto de outras jogadoras. Essa é a maior evolução.

Com a profission­alização dos clubes, o campeonato é cada vez mais competitiv­o?

— Claramente. Quanto mais profission­ais os clubes vão ficando, mais condições dão às jogadoras para crescer e me

“O Sporting foi o primeiro clube onde joguei profission­almente. Faço do futebol a minha vida” “Em todos os jogos há aprendizag­em, principalm­ente nas derrotas. A nossa melhor resposta foi vencer o Famalicão”

Joana Marchão

Lateral-esquerdo do Sporting

“Quando soube que a Ana Borges vinha para o Sporting, nem consegui dormir com ansiedade” “Fiz parte da formação com rapazes. Fui uma sortuda por ter essa oportunida­de” “Com 13 anos fui obrigada a jogar com mulheres de 30. Agora isso mudou”

lhorar. O único senão são as equipas com pouco poder nanceiro, que vão ficando para trás quando as equipas ditas grandes continuam a investir em jogadoras e condições de trabalho. Aí, tem de começar haver outras ajudas. Só assim poderemos pensar num campeonato 100 por cento profission­al e mais competitiv­o.

Desde que começou a competir até aos dias de hoje, quais são as principais diferenças que encontra?

— Uma das diferenças é a Liga. Tem uma estrutura completame­nte diferente. E depois, lá está, as condições de trabalho que o Sporting tem conseguido dar-nos. Quando jogava no Ouriense só treinava três vezes por semana e muitas vezes tínhamos que partilhar o campo com outra equipa que treinava à mesma hora. Às vezes não conseguia ir aos treinos porque vivia longe e os meus pais é que me levavam.

Sentiu algum tipo de discrimina­ção por ser mulher?

— Felizmente, sou uma das sortudas. Raramente senti isso. Os meus colegas e amigos na altura estavam sempre prontos a defender-me e em momento algum me puseram de parte por ser mulher. Ainda hoje mantenho amizade com muitos deles. Tenho alguns episódios, mas nada que me fizesse querer desistir, o que infelizmen­te ainda acontece com algumas meninas.

Há alguém que seja uma referência para si no futebol?

—A Ana Borges. Quase todas as semanas lhe digo isso. Quando soube que ela vinha para o Sporting, nem dormi com ansiedade. Agora, tenho a sorte de a chamar de amiga mas continua a ser a minha referência.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal