O tempo da cal que queimava as pernas
O futebol feminino tem crescido muito, em condições e ofertas, mas nem sempre foi assim
As internacionais portuguesas têm histórias do arranque e de como, entretanto, as condições melhoraram com o passar do tempo. Agora, garantem, teriam chegado a outros patamares
Os sacrifícios foram muitos, mas a vontade de jogar futebol falou sempre mais alto. Para Sílvia Brunheira essa raça das primeiras gerações está a perder-se com o tempo.
Reativamente às condições dadas às jogadoras, há uma evolução crescente. O que vos manteve tantos anos a jogar perante tantas dificuldades?
— Foi, sobretudo, a paixão que temos pelo futebol. — Se tivéssemos as mesmas condições dos dias de hoje, éramos jogadoras de alto nível. Porque com a nossa qualidade, com as nossas características, não encontramos assim tão facilmente. — SB: A paixão que tínhamos pelo futebol sobrepôs-se sempre aos sacrifícios. Lembro-me de começar a jogar à bola na escola com as minhas botas ortopédicas e com bolas feitas de meias. Mesmo quando começámos a jogar de maneira formal, começámos por jogar no pelado, com linhas que eram marcadas a cal, que nos queimava as pernas. Inicialmente, jogávamos na rua de qualquer maneira, até descalças... Só de ter ali um campo com balizas e marcado com as linhas todas, mesmo que fosse em terra, era ótimo. Queríamos era jogar à bola. Então, acho que, hoje em dia, as miúdas não têm estas condições - e ainda bem -, mas a paixão delas se calhar também é diferente.
A mística é outra?
— SB: Sim, aquela força, competitividade, raça e ânsia de vencer, que a nossa geração tinha, já não se vê tanto. Não generalizando, claro, mas nota-se alguma diferença em pormenores, sobretudo nas derrotas.
“Se tivéssemos as mesmas condições éramos jogadoras de alto nível” Edite Fernandes Ex: jogadora do Futebol Benfica