O Jogo

“Em ou alma" Paris, a equipa ganh

- CARLOS PIRES RUI FERREIRA

O treinador de guardarede­s do campeão francês, que tem Renato Sanches, José Fonte, Tiago Djaló e Xeka nas suas fileiras, contou a O JOGO como foi possível ficar à frente do superfavor­ito PSG

Nem a enorme diferença de orçamento entre os dois clubes conseguiu vergar a vontade de um plantel onde a “família” portuguesa foi decisiva para erguer um título que fugia há dez anos. Para além de Carlos Pires e dos quatro jogadores, no clube também estavam Luís Campos, diretor-desportivo, e o adjunto Jorge Maciel.

Contra todas as expectativ­as, o Lille levou a melhor sobre o PSG. Como foi essa caminhada rumo ao título?

—No início, o nosso objetivo não era sermos campeões, era a Champions, e tudo começou na época anterior, quando o campeonato parou antes do final devido à pandemia de covid-19. Fomos prejudicad­os, ficamos em quarto lugar, atrás do Rennes, com menos dois pontos,falhandooa­puramento para a Champions. Esta temporada, apesar da diferença de orçamento para o PSG, 120 milhões de euros para quase 640, eles começaram a perder pontos em casa contra equipas que até desceram de divisão. PSG é PSG, mas acabaram por facilitar um pouco... Os jogos-chave deste título foram as vitórias em Paris e em Lyon, além disso não perdemos com nenhuma das outras equipas do topo . A partir do triunfo em Paris, a equipa ganhou alma. Defensivam­ente fomos muito bons e no ataque tivemos grande eficácia. Não conseguimo­s resultados muito desnivelad­os, vencíamos por 1-0, empatávamo­s 1-1, e fomos por ali fora, jogo a jogo, até nos sagrarmos campeões...

Pode dizer-se que este título do Lille tem dedo português?

—Absolutame­nte. A base da equipa era portuguesa, tínhamos o Jorge Maciel como treinador-adjunto, e também o Reinildo, que é moçambican­o.Juntámo-nos todos ali, remámos todos na mesma direção e trouxemos os franceses para o nosso lado. Os portuguese­s do Lille são uma família; brincávamo­s, conversáva­mos, desabafáva­mos,jantávamos juntos. Houve uma altura em que já dizíamos o título ‘vai acontecer’, já não era ‘pode acontecer’.

“Provavelme­nte, Renato vai subir a outro patamar”

Nome incontorná­vel nas conversas sobre a campanha da Seleção, Renato Sanches “acabou a Ligue 1 em grande e chegou em muito boa forma ao Europeu”, afirma Pires, convicto que o “excelente Europeu” realizado pelo médio do Lille, cobiçado por Liverpool e Arsenal, “provavelme­nte vai fazê-lo subir a outro patamar” na carreira. Em França “jogou bem em várias posições, embora se tenha destacado como médio interior direito”, diz sobre o craque que “ainda era um miúdo quando foi para o Bayern”. O técnico não esconde que esperava ver Renato Sanches “jogar desde o início do Europeu”.

Como resume a campanha dos quatro jogadores portuguese­s que foram campeões?

—O Renato Sanches começou muito bem a época, mas foi àS eleção Nacional e magoou-se. Demorou achegarà forma ideal, mas acabou o campeonato em grande. O Zé Fonte fez quase todos os jogos, foi o nosso capitão, o nosso líder, e o facto de termos a defesa menos batida da Ligue 1 tem dedo dele. Até foi incluído no onze ideal do campeonato. Fezdup la comoBotman, um central de 21 anos que ao lado dele esteve impecável. O Xeka fez mais jogos do que na época anterior e o Tiago Djaló, sempre que entrou, nunca deixou a equipa ficar mal, jogando a bom nível. São dois jogadores que cresceram bastante e que, tenho a certeza, vão subir ainda mais de nível.

E ainda há outro português neste feito, o Luís Campos, diretor-desportivo...

—O Luís teve um papel importantí­ssimo neste Lillecampe­ão.Édos melhores do mundo nesse papel; fez o clube crescer, escolheu todos os jogadores, idealizou tudo, não faltava nada a ninguém e resolvia tudo na hora. Vou ficar-lhe agradecido para toda a vida e tenho orgulho de o ter como amigo, ele é fantástico.

Festejar um título sem público nas bancadas deve ter um sabor agridoce...

—É como ir a Roma e não ver o Papa! Nem a taça recebemos no nosso estádio... Mas à chegada a Lille, de madrugada, tínhamos uns dez mil adeptos à nossa espera no aeroporto. Foi uma sensação indescrití­vel, de arrepiar. Horas mais tarde, quando fomos mostrar a taça na cidade, tínhamos umas 50 mil pessoas à volta do autocarro. Aí, sentimo-nos campeões!

“Quando fomos mostrar a taça na cidade tínhamos umas 50 mil pessoas à volta do autocarro. Aí, sentimonos campeões”

Carlos Pires Treinador de guarda-redes do Lille

“O Renato Sanches começou muito bem, mas magoou-se. Depois, acabou o campeonato em grande”

“O Zé Fonte fez quase todos os jogos, foi o nosso capitão, o nosso líder, e o facto de termos a defesa menos batida tem dedo dele”

“Luís Campos teve um papel importantí­ssimo neste Lille campeão. É dos melhores do mundo nesse papel”

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