Pontos de situação
1
Interpretando com acerto total o sentimento maioritário da numerosa massa adepta benfiquista, Luís Filipe Vieira, sem que a isso estivesse estatutária ou legalmente obrigado, apresentou a demissão da presidência do clube e da SAD. Fez bem em colocar um ponto final no seu reinado à frente do Benfica, saindo de cena pelo próprio pé. Poupou a si mesmo e ao clube cenas como as presenciadas em paragens vizinhas não há tanto tempo assim.
2
Igualmente bem esteve a nova-velha Direção do Benfica ao marcar eleições antecipadas para antes do final do ano. No clube mais democrático de Portugal, as cooptações não devem ter lugar, muito menos para protelar inevitáveis atos eleitorais. Saúdo, assim, a forma como em cerca de uma semana o Benfica foi capaz de reencontrar o caminho da normalidade institucional no meio de um terramoto de grau 9 (excecional) na escala de Richter – falta agora que venham a público engolir a acusação de “golpe de Estado” os que a dirigiram a Rui Costa há uma semana.
3
Subscrevo a “exigência” de Noronha Lopes para que seja aprovado em tempo útil um regulamento que assegure eleições transparentes e justas, e para que a BTV promova debates e dê tempo de antena a todas as candidaturas que vierem a apresentar-se a sufrágio. Não querendo insinuar absolutamente nada em relação às últimas eleições (não estou por dentro do processo), entendo que é obrigação do clube criar condições para que o ato eleitoral seja promotor da união da família benfiquista em torno do presidente que vier a ser eleito.
4
Reconhecendo a mais do que inoportuna opacidade com que foi tratado o negócio da venda de 25% das ações da Benfica, SAD ao multimilionário John Textor – e nestas matérias, como noutras, o segredo não pode ser a alma do negócio –, o que a oferta do empresário norteamericano veio provar é que o preço da OPA lançada pelo clube a alegado benefício de José António dos Santos e Luís Filipe Vieira era um preço de favor, sim, mas de favor para o comprador (o clube), não para os vendedores (Santos, Vieira, etc.). A CMVM chumbou o negócio e eu não discuto a legitimidade da decisão. Porém, quem saiu a perder foi o clube – e é fácil perceber porquê: poderia vender agora ao preço de €8,60 (ou mais…) o que na OPA lhe teria custado €5,00.
5
Podem os superiores interesses do Benfica deixar de, ao menos, ouvir o que tem para dizer alguém que quer investir €50 milhões (ou mais) na SAD e que se propõe reduzir em 25% o custo dos juros do empréstimo obrigacionista em curso? Não me parece que John Textor seja um desses chineses afunda Aves ou tenha aqui caído de páraquedas vindo do desconhecido. Fizeram mal Rui Costa e os demais responsáveis encarnados: nem a bem da saudada normalidade institucional tudo o que mexe com o nome de Vieira deve ser considerado tóxico.
6
Três dias bastaram para a justiça desportiva desembrulhar, passados longos sete meses, o castigo a aplicar a João Mário – bastou que assinasse pelo Benfica. Mais um tiro dado nos pés por um Conselho de Disciplina que tanto diz pugnar pela credibilização do futebol português, mas que não conseguiu fazer Palhinha cumprir um jogo de castigo por uma série de cinco cartões amarelos – caso único, ou melhor, vergonha única na história do futebol mundial.
7
Vi o primeiro jogo televisionado do Benfica 2021/22 e cabe aqui a pergunta de treinador de bancada: faz sentido a menos de três semanas do início da disputa de jogos decisivos para acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões a utilização de 23 (!) jogadores? Evoluíram por ali alguns que, se as casas de apostas me proporcionassem essa possibilidade, arriscava já dinheiro em como não vão fazer parte do plantel. Não entendi, também, a utilização daquele que me dizem ser a maior promessa da sua geração, o médio boxto-box Paulo Bernardo: uns parcos vinte minutos em campo… a lateral-direito!