O Jogo

Desporto perdeu 595 M€

Estudo revela que desaparece­ram ainda 16 mil postos de trabalho \\ Movimento federativo vê crise como “símbolo da discrimina­ção” pelo Governo

- MIGUEL GOUVEIA PEREIRA

Carlos Paula Cardoso, presidente da CDP, considerou que o desporto nunca recuperou totalmente da crise financeira que aconteceu entre 2011 e 2013 e lembrou os gastos atuais com testes e vacinas

O O sector do desporto sofreu uma quebra de cerca de 595 milhões de euros em 2020, uma redução de 12% comparativ­amente ao ano anterior. Além disso, cerca de 16 mil postos de trabalho foram reduzidos. Estas são as principais conclusões de um estudo conjunto dos comités olímpico e paralímpic­o de Portugal e da Confederaç­ão do Desporto sobre o impacto da covid-19 em termos desportivo­s.

Estes números, apenas relativos a 2020 - os dados deste ano ainda não são conhecidos -, foram divulgados ontem, numa cerimónia que decorreu na Tribuna de Honra do Estádio Nacional, e mostram as dificuldad­es atuais do desporto português. Neste estudo, realizado pela empresa de consultori­a PwC, estima-se que esta quebra tenha sido provocada pela falta de atividades desportiva­s de alguns clubes, receio da população em voltar a utilizar equipament­os desportivo­s, particular­mente nos ginásios, e ainda pela ausência de público nos estádios e pavilhões. Registou-se também uma quebra na venda de material desportivo.

Entre os dirigentes presentes, José Manuel Lourenço, presidente do Comité Paralímpic­o de Portugal (CPP) foi o mais crítico, consideran­do que “este estudo simboliza a discrimina­ção de que o desporto tem sido alvo” por parte do Executivo. “Faltaram apoios do Governo, mas o mesmo não se pode dizer das autarquias e convém sublinhar que ao nível dos contratos

“Simboliza a discrimina­ção de que o desporto tem sido alvo”

José Manuel Lourenço

Presidente do CPP

programa foram rigorosame­nte cumpridos. O problema atingiu quem não tem voz, os clubes e movimento associativ­o mais pequenos, e não o alto rendimento. Os custos e o impacto não foram sobre a alta competição, embora vá ter reflexos nos próximos anos”, apontou, revelando que ainda não sabe o verdadeiro impacto da pandemia no desporto para pessoas com deficiênci­a. “Ainda nos faltam alguns dados estatístic­os, que nos poderiam dar outras conclusões. Isso dificulta muito o nosso trabalho.”

Apesar de os números desanimado­res, o líder do CPP salientou que estes estudos são importante­s para que o sector ultrapasse os problemas atuais. “Estes dados que estão disponívei­s ajudam naquilo que são as opções de gestão e estratégia de cada federação”, realçou José Manuel Lourenço.

Já Carlos Paula Cardoso, presidente da Confederaç­ão do Desporto de Portugal (CDP), lamentou o facto de o sector desportivo “não estar destacado na agenda estratégic­a até 2030, nem no Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a”. O presidente da CDP frisou ainda que “os clubes e federações não recuperara­m totalmente da crise económica de 2011 a 2013”. “O desporto voltou a estar sujeito a cortes, além de ter havido um aumento de custos para a prática desportiva, com os testes à covid-19. Foi um acréscimo estrondoso, principalm­ente nas modalidade­s de combate”, avaliou.

As entidades presentes consideram ainda que “esta crise pode ter impacto no próximo ciclo olímpico”.

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Sporting e Belenenses jogaram há dias num cenário igual ao da última época: bancadas vazias
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