Desporto perdeu 595 M€
Estudo revela que desapareceram ainda 16 mil postos de trabalho \\ Movimento federativo vê crise como “símbolo da discriminação” pelo Governo
Carlos Paula Cardoso, presidente da CDP, considerou que o desporto nunca recuperou totalmente da crise financeira que aconteceu entre 2011 e 2013 e lembrou os gastos atuais com testes e vacinas
O O sector do desporto sofreu uma quebra de cerca de 595 milhões de euros em 2020, uma redução de 12% comparativamente ao ano anterior. Além disso, cerca de 16 mil postos de trabalho foram reduzidos. Estas são as principais conclusões de um estudo conjunto dos comités olímpico e paralímpico de Portugal e da Confederação do Desporto sobre o impacto da covid-19 em termos desportivos.
Estes números, apenas relativos a 2020 - os dados deste ano ainda não são conhecidos -, foram divulgados ontem, numa cerimónia que decorreu na Tribuna de Honra do Estádio Nacional, e mostram as dificuldades atuais do desporto português. Neste estudo, realizado pela empresa de consultoria PwC, estima-se que esta quebra tenha sido provocada pela falta de atividades desportivas de alguns clubes, receio da população em voltar a utilizar equipamentos desportivos, particularmente nos ginásios, e ainda pela ausência de público nos estádios e pavilhões. Registou-se também uma quebra na venda de material desportivo.
Entre os dirigentes presentes, José Manuel Lourenço, presidente do Comité Paralímpico de Portugal (CPP) foi o mais crítico, considerando que “este estudo simboliza a discriminação de que o desporto tem sido alvo” por parte do Executivo. “Faltaram apoios do Governo, mas o mesmo não se pode dizer das autarquias e convém sublinhar que ao nível dos contratos
“Simboliza a discriminação de que o desporto tem sido alvo”
José Manuel Lourenço
Presidente do CPP
programa foram rigorosamente cumpridos. O problema atingiu quem não tem voz, os clubes e movimento associativo mais pequenos, e não o alto rendimento. Os custos e o impacto não foram sobre a alta competição, embora vá ter reflexos nos próximos anos”, apontou, revelando que ainda não sabe o verdadeiro impacto da pandemia no desporto para pessoas com deficiência. “Ainda nos faltam alguns dados estatísticos, que nos poderiam dar outras conclusões. Isso dificulta muito o nosso trabalho.”
Apesar de os números desanimadores, o líder do CPP salientou que estes estudos são importantes para que o sector ultrapasse os problemas atuais. “Estes dados que estão disponíveis ajudam naquilo que são as opções de gestão e estratégia de cada federação”, realçou José Manuel Lourenço.
Já Carlos Paula Cardoso, presidente da Confederação do Desporto de Portugal (CDP), lamentou o facto de o sector desportivo “não estar destacado na agenda estratégica até 2030, nem no Plano de Recuperação e Resiliência”. O presidente da CDP frisou ainda que “os clubes e federações não recuperaram totalmente da crise económica de 2011 a 2013”. “O desporto voltou a estar sujeito a cortes, além de ter havido um aumento de custos para a prática desportiva, com os testes à covid-19. Foi um acréscimo estrondoso, principalmente nas modalidades de combate”, avaliou.
As entidades presentes consideram ainda que “esta crise pode ter impacto no próximo ciclo olímpico”.